Airton Souza
Marabá / PA

 

 

De outros gestos nos dias

 

 

ao ouvir a palavra ampola
o pai subterraneava dentro do coração
um gesto de lembrar cacos ou minúcias
para acender trajetos dentro do inverno

sob suas unhas
um topografado campo
[ impregnado da linguagem esquecida das sementes ]
foi deixado como o retrato que acorda a casa
& seu umbral de silêncios imaginários

o pai, fazendo de relicárias retinas
tinha, avesso às rezas,
um estranho entendimento de longitudes

contudo, inventava, como ninguém,
utensílios em que homens
não sabiam ser ilhas.

o compêndio da mãe & seus pacíficos
abriram fissuras no destino dos pés
para ela atravessar o que orienta
o destroço de um abismo
circundado em seu olhos

sua voz de incenso
impõe, anterior ao deserto, um pedido:
ancorar um pássaro e sua linguagem
ao espaço geográfico dentro do peito.

 

(para as mães e pais, no mundo)

 

 

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - vol. 158 - Março de 2018