Silas Nataniel dos Santos Lima
São Miguel dos Campos / AL

 

 

Rua A.B.

É na sombra da noite que o homem esconde
 seus segredos mais sombrios
.

 

 

Em casa o homem se despedia da mulher e dos filhos, já passava das 23 horas e ele precisava ir para o trabalho. O emprego na usina não tinha um horário definido, uma semana o homem pegava durante o dia e outra durante a noite, quando o trabalho atrasava, era preciso ir tanto pela manhã quanto a noite. Dificuldades que o trabalhador precisa enfrentar para sustentar sua casa.
Foi em um desses dias cansativos que o homem chegou em casa à tarde e pouco tempo depois recebeu um telefonema, era preciso voltar  para adiantar o serviço durante a madrugada. Após a despedida lá se foi o homem, em direção ao ponto para pegar o ônibus que o levaria ao trabalho, rua vazia, um ou outro passante, minutos depois a chegada ao ponto, não havia ninguém e o homem passou como se não tivesse chegado ao seu objetivo. Tomou o rumo do centro da cidade, era perto da meia-noite e estava frio, o homem vestiu uma jaqueta escura que levava na mochila e continuou a andar a passos largos, parecia ter um lugar certo para ir.
Na rua principal da cidade, o homem não parava de olhar para os lados e para trás, parecia desconfiado, com receio de encontrar alguém conhecido. Mais adiante chegou a uma esquina e entrou na rua A. B. Apesar de ser no centro da cidade é uma rua de pouca iluminação, escura.
Enfim, chegou o homem ao seu destino, uma casinha simples e mal -acabada, com uma luz vermelha na frente, entrou e sentou-se em uma das mesas, a sala era bem apertada, poucas mesas, uma luz fraca ao fundo tentava clarear o ambiente em vão, era pra ficar assim mesmo, as pessoas não queriam ser vistas ali, não demorou muito para que uma menina franzina e mal- arrumada, que não tinha mais que seus dezesseis anos chegasse à mesa e se sentasse na perna daquele homem. A bebida foi solicitada e o homem se preparava para agir. Chegou o momento, levantaram-se da mesa e foram para um quartinho nos fundos da casa, um cubículo sujo e mal-arrumado. Foi ali mesmo, o homem tomou a menina para si, ela, indiferente ao momento, fazia uma encenação para demonstrar que estava sentindo alguma coisa, algum prazer. Não estava, fazia aquilo todos os dias apenas por necessidade, para ela já era algo mecânico, que não trazia emoção nem sentimento.
Passado o momento, ambos voltaram à sala. O homem entregou os vinte reais da garota e sentou-se a mesa para pedir mais uma bebida, a menina por sua vez foi atender outro cliente. Cansado e depois de outra bebida o homem pegou no sono.
Amanheceu, o homem chama a dona da casa, paga a bebida e vai embora, na rua principal ele para em uma lanchonete para tomar café da manhã, estava exausto, foi uma noite desgastante de trabalho. Depois de tomar café e usar o banheiro da lanchonete para lavar o rosto, o homem estava novo. Era hora de voltar para casa. Chegando lá o homem beijou a mulher e os filhos, nada de mais havia acontecido, apenas mais uma noite de trabalho.

 

 

 

 
Poema publicado no livro "Contos de Amor e Ódio" - Julho de 2018