Amaury Villanova
Belém / PA

 

 

O mistério de Luvanor

 

Luvanor era um sujeito sério, pelo menos parecia ser. Chegara sozinho em Alenquer lá pelos idos de 1980, na época da festa de Santo Antonio, e por lá foi ficando. Em pouco tempo, sabia-se lá como, enriqueceu levando turistas para passear de barco pelo Rio Amazonas. Difícil acreditar nessa desculpa (que ele dava quando questionado sobre sua rápida ascensão financeira), afinal ninguém, nem os mais antigos ribeirinhos que viviam desse tipo de turismo conseguiram tal façanha.
Tornamo-nos amigos por volta de 1990, quando eu intermediei a compra de uma fazenda que ele queria comprar em Curuá.
Luvanor era solteiro, digamos solteirão, já que beirava os cinquenta anos e não tinha sequer uma namorada. Segundo ele, nunca teve desde que enriqueceu.
Certo dia, durante os desvios de uma conversa que tivemos quando ele festejava, dessa vez,  a compra da fazenda de Zé Emerildo, lá pelas bandas de Óbidos,  entre um papo e outro confessou-me que tinha vontade de ter uma namorada, noivar, casar... mas não podia por conta de um acordo.
Intrigado, pedi que ele me falasse desse tal acordo.
Um tanto contrariado, mas movido, quem sabe, pelo excesso de cachaça, por fim, se abriu:
- Pois é, meu amigo... se eu casar... perco tudo! Perco as fazendas, perco o gado, perco a saúde...
- Mas por que, Luvanor?
Ele parou por alguns instantes. Ajeitou o chapéu e recurvou o corpo pra frente como se quisesse contar um segredo.
- Sabe o boto?
- O cor-de-rosa?
- Ele mesmo! Foi ele que me deu isso tudo. Tudo!
- Deu isso tudo pra você?! Mas o boto, pelo que sei, gosta de mulheres...
- Pois é... só que o meu boto... é gay! E é ciumento da porra!
 

 

 
Conto publicado no livro "Contos Fantásticos" - Junho de 2018