Elizabeth Maria Chemin Bodanese
Pato Branco / PR

Bocas famigeradas

 

        

Lisarb, outono de um tempo turbulento.
Há muito, muito tempo, banhado pelo Atlântico, Lisarb era um paraíso natural.
Em harmonia, natureza e gentis viviam nesse lugar de ar puro, de água cristalina e fresca, brotada das fontes... Água que deslizava cantando entre as pedras, formava cascatas e banhava as matas.
Todavia, em uma noite de tempestade, aportaram na costa de Lisarb, algumas naus cheias de bocas famintas de ouro, prata, pedras preciosas, madeira...
Apoderaram-se daquela terra...
Sem perder tempo, enviaram uma carta ao rei de Lagutrop, país de onde partiram, descrevendo as belezas e a riqueza da terra encontrada.
Foi assim que o rei de Lagutrop, fugindo das tropas de um tal Noleão Maparte, um poderoso e sanguinário rei que almejava dominar todos os reinos do mundo, chegou ao Lisarb.
Com o rei fujão, aportaram também centenas de naus carregadas de elementos perigosos para povoar e dominar o chão descoberto.
Os gentis e a natureza foram dominados...
E passou o tempo... O rei partiu...  Outros povos, pela mesma ganância, chegaram...
A população de Lisarb crescer e cresceu...
Travaram-se combates, encontros e desencontros, escravidão...
Surgiram muitas outras e mais astutas bocas famintas de dinheiro e de poder. Mandavam e desmandavam. Tudo era para elas e por elas.
Havia os que trabalhavam e não tinha direito algum; havia os que roubavam e tinham direitos. Em tudo e todos os lugares reinava o medo, o caos...
E passou o tempo... E nenhum líder apareceu para colocar ordem e fazer valer os direitos e deveres daquele povo desamparado. Proteger aquele lugar que já havia sido um paraíso.
A evolução emergiu e o caos aumentou...
Perdida a esperança, os trabalhadores retiraram-se para lugares desconhecidos. 
Em Lisarb, corruptas, violentas e gananciosas, as bocas famigeradas ficaram e continuaram a brigar por fatias de poder.   

 

 

 

 

 
Conto publicado no livro "Contos Fantásticos" - Junho de 2018