Iza Engel
Quatro Barras / PR

Os rumos de um sonho

        

 

         

Uma mocinha da roça flertava com o motorista do ônibus que passava todos os dias pela estrada, nas divisas da propriedade de seus pais.
O tal rapaz deixava a moça sempre aos suspiros. Contudo, nunca se aproximou para falar com ela. 
A moça com muita vontade de mudar de vida, deixar dos trabalhos na propriedade dos pais, passou a conversar com um português que trabalhava numa loja de secos e molhados.
 O português todo apaixonado, pois a rapariga era muito bonita, resolveu pedir o consentimento de seus pais para namorar.
 Não se passou muito tempo e já estavam de casamento marcado.
 Não era esse o desejo de sua família. Seus pais queriam casar as duas filhas num mesmo dia, pois nas redondezas moravam dois sitiantes que desejavam desposar as moças.
Acontece que seus pais não conseguiram mudar a ideia da moça.
O casamento aconteceu.
Foram morar numa cidade vizinha. O casal progredia, vieram os filhos. Montaram uma loja de secos e molhados e levavam uma vida de bastante trabalho, mas decente, conseguindo dar boa educação aos filhos. 
Certo dia chegou notícias de que sua mãe estava adoentada. Parece que essa notícia mexeu com a cabeça da esposa, pois queria a todo custo ir cuidar da mãe.
Não era possível, tinham os filhos, os negócios, não era fácil resolver as coisas daquela maneira.
- Uma mudança precisa ser planejada, dizia o marido.
Ela não queria nem saber, continuava sendo a mesma moça teimosa de sempre. Quando colocava algo na cabeça não existia quem conseguisse mudar suas ideias.
Teimou tanto, que o esposo fez sua vontade. Vendeu tudo com muito prejuízo e se mudaram para a cidade dos pais dela. A vida se tornou um caos. Foi assumido compromisso com aluguel, e, o pouco de dinheiro que tinham foi aplicado em sociedade com um cunhado na compra de um caminhão. Os filhos tiveram que estudar em escolas públicas. 
O esposo nunca foi motorista, seu forte era negociar.
Foi contratado um motorista para fazer o transporte de mercadorias que eram negociadas em São Paulo. Além das despesas com a família seus ganhos tinham que dar conta do salário do motorista e ainda da parte do cunhado seu sócio. 
Como as mercadorias eram compradas e acertadas pelo cunhado, em cada viagem o dinheiro era passado pra ele, que deveria fazer os acertos das contas.
O cunhado estava acostumado com muitas negociações e ficava sempre enrolando para pagar. Só entregava alguns vales deixando sempre o acerto para mais tarde.
Cada dia que se passava a situação se complicava um pouco mais. Aqueles acontecimentos passaram a perturbar a vida do casal.
Tudo era motivo para discussão. Numa dessas discussões devido à falta de acertos do cunhado, a esposa se pôs a defender o irmão. Não deu a mínima aos motivos do esposo. Ele muito magoado com a posição da esposa, resolveu lhe propor  separação. Ela, sentindo-se toda protegida pelo irmão concordou imediatamente com ele. Ele acordou com o cunhado que pagasse a metade do valor que ele tinha colocado na sociedade para ele, e a outra metade deveria pagar para a esposa.
Como a esposa tinha concordado com tudo, arrumou sua mala e partiu.
Passados alguns meses o esposo voltou para tentar reatar aquele casamento, sentirá muita falta da família. Contudo, a esposa não aceitou. Mandou que tomasse seu rumo, que ali não tinha nada mais a querer.
Diante dessa negativa da esposa ele tomou o rumo de volta a sua terra natal.
A esposa precisou batalhar muito para criar e educar as crianças, pois seu irmão, que tinha lhe prometido que nunca deixaria faltar nada em sua casa, resolveu oferecer para ela uma chácara com uma granja falida em troca pela sua parte na sociedade do caminhão.
Ela mal informada e despreparada aceitou, pensando que teria lucro com o negócio.
Não durou muito tempo seu sonho e ilusão com ganhos provenientes daquela chácara.
Acabou vendendo tudo e montou uma granja no terreno de seus pais.
Formou uma horta, onde plantava muitos legumes e verduras. Além de alimentos para a família, colhia verduras para tratar as poedeiras e também para vender aos vizinhos.
Era uma vida de muito trabalho, mas conseguia educar as crianças.
Passado um bom tempo, depois do falecimento de sua mãe, passou a morar numa casa que ficava mais no centro da cidade. Casa essa cedida temporariamente por seu genro.
Para manter a família conseguiu ser contratada como servente em uma escola.
Nada  acontece por acaso, essa casa ficava na frente da casa da mãe do motorista do ônibus que fizera pulsar seu coração durante a juventude.
Era outra época, tudo estava no passado, mas aquelas lembranças e aquele amor jamais vivido despertavam outros sonhos no seu ser...

 

 

 
Conto publicado no livro "Contos de Outono" - Maio de 2018