Anderson Jean Chaves de Mendonça
Caucaia / CE

 

 

O rato vegetariano

 

 

Há muito tempo, em minha casa havia um pequeno rato, rato esse que fazia a maior arruaça no local.
A cozinha ficava cheia de rastros, embalagens de comida rasgadas, deixando as migalhas espalhadas pelo chão. Pedacinhos de papel nos cantos dos armários e dos rodapés. Buracos nos potes de mantimentos e em partes de madeira dos móveis.
Isso estava ficando cada vez mais chato, uma situação muito inconveniente mesmo. Desta forma eu resolvi tomar providência, na tentativa de resolver a situação.
Na mesma semana que eu tentei eliminar aquela, que naquele momento eu considerava uma praga (o bendito ou maldito rato) eu recebi um email e precisei fazer uma viagem de trabalho urgente. Porém antes da pegar o voo, comprei mais duas ratoeiras e as deixei armadas, com pedaços de queijo como isca.
Com a certeza que o problema estaria resolvido quanto eu retornasse do compromisso, eu viajei sossegado. Fiz tudo que tinha que fazer e em uma semana retornei ao velho e querido apartamento.
Feliz eu entrei após abrir a porta, procurei o corpo do infeliz ratinho, mas para a minha infelicidade o que eu vi foram as quatro ratoeiras armadas da mesma forma que eu deixei, e detalhe, com os pedaços de queijo que eu deixei como isca, ainda estavam lá.
Eu pensei que diabo de rato é esse que não gosta de queijo? Fiquei completamente intrigado e revoltado que aquele ser desprezível. Será que ele não gosta de queijo ou será que ele é mais inteligente do que eu?
Pensei em outra maneira de me livrar daquele meu hóspede indesejável.
Tentei espalhar pedaços de vários tipos de alimentos com veneno pela casa, de novo na tentativa de eliminar aquele mal.
Eu cheguei até a alugar um gato de uma amiga. Levei o felino para o apartamento e soltei-o na sala, fechei a porta e saí para trabalhar. Quando retornei no período da tarde e abri a porta. Quase caio para trás, a casa estava de cabeça para baixo, toda revirada. Mais uma dor de cabeça para mim. Não me livrei do ratinho e ainda arrumei mais confusão e trabalho.
Devolvi o gato para minha amiga e contratei uma diarista para arrumar a bagunça causada pelos dois animais inconsequentes, será que eles não pensaram nem um momento em mim, no trabalho que eu teria para arrumar aquela confusão?
Depois da casa arrumada eu resolvi relaxar um pouco, coloquei uma música no som, sentei no sofá com os pés em cima de um puff, fechei os olhos e descansei. Logo em seguida ouvi uns barulhos estanhos vindo da cozinha, levantei devagar e fui até o local, para a minha surpresa eu vi o ratinho dentro da lixeira comendo restos de comida, mas não era carne, nem frango, ou peixe. Ele estava comendo resto de frutas e legumes, o peguei com um pedaço de tomate na boca, apoiado pelas patas dianteiras.
Quase cai duro naquele momento, e sem pensar comecei a gargalhar, assustando o pequeno roedor vegetariano. Isso mesmo, o rato era vegetariano, por isso que eu não consegui pegá-lo com as iscas que usei, se por acaso eu tivesse usado legumes nas ratoeiras, aposto que já teria me livrado dessa praga.
Nunca é tarde! Preparei umas novas iscas (frutas, legumes, hortaliças), armei as ratoeiras em lugares estratégicos, saí de perto e esperei o resultado. Dormi e me assustei meia hora acordei assustado com um barulho estranho, levantei atordoado, depois de alguns segundos raciocinei e lembrei que eu havia colocados as armadinhas para pegar o rato vegetariano. Fui até a cozinha e bingo, lá estava o rato preso na ratoeira, ao seu lado um pedaço de cenouras roído.
Reparei que ele ainda estava vivo, pensei em deixá-lo ali morrendo, pensei em esmagá-lo e acabar com aquele pesadelo, pensei em me livrar logo dele, jogando-o fora. Mas pensei no sofrimento que ele estava sentindo naquele momento, preso em uma ratoeira, indefeso e frágil. Sem saber o que fazer fiquei olhando-o, morrendo aos poucos se poder fazer nada.
Meu coração se sensibilizou, peguei a ratoeira em minhas mãos, olhei para o animalzinho e desarmei a armadilha, soltando o pequeno roedor vegetariano, verifiquei os ferimentos causados pela ratoeira e tentei fazer uns curativos na intenção de restabelecer a saúde do agora meu companheiro.
Cheguei a levá-lo ao médico veterinário, depois de ser examinado, medicado e passado alguns dias em repouso, só descansando e comendo vegetais, vejo ele agora esperto de novo, aprontando pelo apartamento, agora o lugar que ele chama de lar permanente.
Isso mesmo, o rato vegetariano, não é mais um intruso, eu resolvi adotá-lo como um inusitado animal de estimação. Ele tem sempre comida e água a disposição, é claro que a comida é a do agrado dele (vegetais), nada de carne, peixe, frango ou outros alimentos industrializados.
A casa ficou limpa, eu não tempo mais dor de cabeça com os roedores, já que o que vive aqui em o conheço bem, e olhando pra ele agora eu penso no problema, e sorriu de tudo.
Pra finalizar, lembro de um fato que me deixou com mais raiva do Druw (esse é o nome do rato vegetariano), foi quando fui procurar um cheque que recebi de um serviço avulso e iria sacar naquele dia, procurei e não encontrava, depois de muito tempo, olhei pra baixo dos guarda-roupas e vi um monte de pedacinhos de papel picado, fui ver é era meu cheque triturado pelo roedor. Isso me deixou com ódio dele. Mas agora é coisa do passado e serve apenas para rir de nossa antiga inimizade.

 

 

 

 

 
Poema publicado no livro "Mutretas, Xavecos e Pilantragens" - Contos - Janeiro de 2018