Helena Maria S. Matos Ferreira
Guapimirim / RJ
O Cavaleiro Andante
Dom Quixote é um dos nossos referenciais de infância. Suas fantasias, seus sonhos de olhos abertos, suas leituras que o fizeram viajar por um mundo fantástico, extraordinário, remetem-nos ao descobrimento de seres magníficos.
Os moinhos que no seu desvario formavam um perigoso exército que precisava ser destroçado; seu grande amor por uma plebéia - princesa e outros episódios não menos marcantes fazem parte de um imaginário repleto de uma fertilidade fascinante.
Fascinante também é ter netos e poder sentar-me comodamente na varanda e observá-los conjecturando em um dos seus raros momentos de trégua. Isabelle, com seus oito anos, e Victor Emanuel , com seis, saboreavam aquela tarde de início de verão e de férias. O céu pingava gotas fresquinhas, quase um sereno orvalhado. Então ouvi uma parte do que conversavam: - "Victor Emanuel, o céu é o ralo de Deus." - Disse Isabelle. - "Então Deus está tomando banho de chuveiro?" - Respondeu Victor Emanuel.
Comecei a meditar sobre a conversa um tanto quixotesca, porém cheia de seriedade.
A imaginação totalmente livre é uma pipa que alça voo alimentada por um enorme carretel de linha. Próprio de criança e de quem não perde os dons do início da vida. Quantas vezes a fantasia do meu casal de netos empurrou-me para as minhas recordações, para as histórias lidas ou contadas pela minha mãe, pela minha tia ou pelas minhas professoras, além da riqueza dos livros da Biblioteca do Grupo Escolar "Elisiário Matta" e daqueles que me foram presenteados. Tudo contribuía para o desenvolvimento do meu potencial de escrita.
Miguel de Cervantes não imaginou que seu personagem, ao vestir uma armadura de lata, empunhar uma lança e montar um pobre pangaré, tudo com muita dignidade, acompanhado por um desengonçado escudeiro, ficaria eternizado e reconhecido através dos séculos. E o que é mais importante, amado e admirado por crianças, jovens e adultos.
Dom Quixote é motivo de permanente estudo literário, pois em cada época de nossa vida suscitará uma releitura, assim como as crianças são capazes de olhar para o céu, ver e sentir a chuva e discernir que Deus na sua magnitude também é capaz de tomar uma boa chuveirada. E ainda aproveitar a água para lavar e abençoar a Terra.
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