Teresa Cristina Cerqueira de Sousa
Piracuruca / PI

 

 

Perguntas da vida

 

Era uma grande varanda, ampla, ao redor da casa, com suas colunas de raízes num chão de ardósia. Ah, como é forte a imagem do menino e da velhinha! Doces pensamentos chegam quando se está num lugar conhecido, que nunca se confunde a casa onde se viveu.  Mas quando agora penso no menino, o vento da tarde vai e vem com seu frescor me chamando para questionar coisas da vida – quando estamos igualmente com a notícia de uma próspera perda.
Nesse ponto, recordo-me da velhinha. Pelos olhos dela, a vida tem abraços do sol se pondo e a vaga lembrança de que já viveu altos e baixos – mas foi feliz! Não há nela o peso do trabalho, contido nas mãos calejadas; como também essas amarguras nas feições de quem viveu caminhos distantes, destinos perdidos, glórias sem conquistas...
Ela tinha um lugar guardado no coração enorme do menino, dia a dia que ele se lembrava da emoção!
O menino, vindo da escola, ficou olhando-a do portão, em segredo que ele entendia porque ela sempre repetia o ato de ler o mesmo livro novamente. Teria já o lido todo alguma vez? Ele não soube precisar... E notou que deveria ser mais atento.
Que coisa triste a avó não se lembrar de fatos recentes!

Caminhou até ela:
Com mil palavras
E sorrisos amáveis...
E inventou
Flores de jasmim
Vozes de animais...
Oh, um gato na rua!

Depois, tornou a caminhar para dentro da casa.
Ela se esqueceu de mim novamente? Será que vai se esquecer de que sabe ler e o livro que eu lho dei será mera lembrança dentro do quarto? !
Por que tudo isso, meu Deus?
Não achava graça nenhuma ver a avó evoluindo no quadro da doença de Alzheimer...
Buscou um ai profundo e sentiu seu quarto tão vazio... Como uma moldura sozinha na parede.

- Minha avó era tão linha! - murmura o homem. E vai até a varanda, o corpo é pesado e melancólico...

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Textos de Grandes Autores" - Novembro de 2017