Rubens Alves Ferreira
Taguatinga / DF

 

 

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Num dia 20 de julho, dia da amizade, deparo-me com uma daquelas pessoas que se acham agraciadas com quase todos os dons – quase todos porque não daria tempo de enumerá-los – e por isso desopilam espírito inteligente recriando e “enriquecendo” mais uma das máximas de boteco: “a amizade é...”. O pior que sair arrotando -logias absolutistas, sem se ater ao outro, ao objeto em si e ao mundo, é o recurso de chancelar tais ideias citando um filósofo – arrogância bem fundamentada.
É como falar da virtude do trabalho citando pensadores gregos da época clássica; sem ter uma clara visão do ideário e postura deles quanto às crianças, mulheres, escravos, estrangeiros e ao próprio ato de trabalhar em uma realidade em que intelectuais, ricos e cidadãos usufruíam e valorizavam o ócio.
Há a mania de se tachar, rotular pensamentos próprios; e tomar isso como verdade tácita – máximas, sem se deter nas singularidades que possam construir o conhecimento, e este como verdade. Aqui caberia indagar o que é amizade, o que é o trabalho, o que é o conhecimento, o que é a verdade e como esta baliza o conhecer. Desde o Idealismo de Platão, o Realismo de Aristóteles; o Idealismo Transcendental de Kant – uma forma de introduzir o Realismo na sua Epistemologia racional –; até o “jogar a toalha” de Wittigenstein, reduzindo tudo ao uso das palavras em sua Filosofia da Linguagem, a Epistemologia não conseguiu resolver o problema do Cético Cartesiano, e o conhecimento continuou um desafio até a idade Moderna. Continua um desafio contemporaneamente; mas, pós Gettier, a virada epistemológica busca ajuda na Ciência, que trilha seu próprio caminho, e tem no Cético não um adversário; mas um aliado na compreensão pragmática e de autoconhecimento humanos, como seres que buscam compreender o erro e o acerto, as verdades e as falsidades em sua existência.
O que fica; e fica chato, é ter que suportar o esculacho de plantonistas de bar, de esquina e de pretensão, destilando álcool, suor e conversa embaçada ao sabor e ao gosto do momento, da ingenuidade; e até mesmo, da ignorância.
Enfim; a amizade tanto pode ser uma virtude, como um peso; uma redenção, uma sublimação, um achado, uma missão; uma ideia, apenas uma palavra, apenas um estado de espírito, apenas minha opinião isolada, apenas a opinião alheia, apenas o respeito por opiniões – quaisquer que sejam –. Sobretudo a amizade pode ser consideração, o sopesar a posição e presença do Outro no mundo. Digressões sobre o objeto, sua interação com o sujeito; e em tudo isso, o contexto.
A verdade, o conhecimento... não são imposições, rótulos ou coisas acabadas em si; pois sempre há um terceiro e toda uma série de histórias e estórias em interações contextuais.
Esta breve exposição se deve ao fato de eu ter feito um comentário em rede social sobre uma postagem e o “amigo” se saiu com essa: “Carambolas! Não entendi porra nenhuma.”, juntamente com uns cinco “emoticons” nada amigáveis. Ou seja, a amizade é uma virtude, quando podemos enquadrar o amigo, o outro e dar favas ao mundo. Bem temperado ao gosto do “Sabe Tudo”. Ah! O meu comentário não coloco aqui, já que pretendo ter razão; e bem colocado, o silêncio falado e talvez ouvido seja a melhor solução.
Diante de tudo isso, parece, e pode ser mesmo que eu é quem seja o implicante que quer ter razão; mas depois dessa, tive que ler outra: “Ainda que seu passado tenha marcas, seu futuro está intacto e só depende das suas escolhas hoje”. Escolhas são bons procedimentos; e sem liberdade seríamos determinados; mas não estamos sozinhos...

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Textos de Grandes Autores" - Novembro de 2017