Helena Maria S. Matos Ferreira
Guapimirim / RJ

 

 

Estou vendo coisas?

 

Lourdes era sensitiva. De vez em quando deixava “escapulir” algumas passagens fantásticas de sua vida.
Ela estava no hospital. Havia dado à luz um belo menino. A enfermaria comportava uns vinte leitos. O berçário tinha duas grandes vidraças: uma dava para dentro da enfermaria e a outra para um longo e espaçoso corredor. O piso era no formato de pequenos hexágonos vermelhos. Muito bem encerado.
Lourdes já podia caminhar e foi “passear” no corredor, olhar o seu bebê pela vidraça, ver se estava tudo bem.
Era uma mulher corajosa; não tinha medo nem dos vivos nem dos mortos.
O ambiente muito limpo, abrigava algumas cadeiras de rodas, antigas, mas em perfeito estado. Ficavam “estacionadas” naquele corredor silencioso e meio na penumbra. Uma imagem de N. Sra do Porto, em um nicho, na parede, parecia vigiar as parturientes e seus filhinhos. Lourdes andava devagar e percebeu que uma das cadeiras começara a se locomover um pouco à sua frente. E pensou : - que enfermo está sozinho, neste corredor e nesta cadeira, já de madrugada?
Lourdes acelerou um pouquinho o passo e ladeou a cadeira. Qual não foi a surpresa daquele acontecimento inusitado? A cadeira estava vazia e andava como se alguém a estivesse conduzindo ou nela estivesse sentado, guiando-a pelas rodas. Então ela fez o sinal da cruz e ficou paralisada por alguns segundos, vendo a cadeira continuar o seu trajeto.
Lourdes, minha mãe, retornou para o seu leito, rezou uma Ave-Maria pela alma que vagava pelo corredor e permaneceu quieta, imaginando que em um hospital muitos fatos extraordinários e fantásticos podem acontecer.
E pensou: - Estou vendo coisas?

 


  

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Contos Fantásticos" - Edição 2019- Outubro de 2019