Claudia Fontenele Alves da Silva 
Águas Claras / DF

 

 

Algumas palavras

 

 

Algumas palavras não deveriam ser ditas, principalmente nos momentos em que estamos amargurados ou enfurecidos. Palavras devem ser ditas quando estamos alegres, de bem com a vida e, quando podemos transmitir coisas que edificam os outros.
Às vezes, precisamos saber para quem devemos contar as nossas vitórias, os nossos sonhos, pois muitos não são amigos de verdade. Muitos querem nos ver sofrendo e gostam de compartilhar somente as desgraças.
Tenho observado que muitos dos meus conhecidos não vibram com minhas conquistas, com as minhas alegrias. Não fazem questão de dizer para mim o quanto tenho progredido. Até parecem estar com inveja. Parecem apreciar meus infortúnios e as minhas mazelas.
Também tenho notado que as pessoas não querem saber nada de ninguém, realmente. Parecem interessadas, mas só de maneira supérflua.
Deixamos de ser pessoas autênticas. Somos tratados como um objeto, como coisas. Não nos respeitam. Deixamos de ser pessoas livres. Tornamo-nos objetos de manipulação. Quer na política, quer na religião.
Muitas vezes sofremos violência psíquica.
Como mulher, sinto-me ultrajada pelos colegas de trabalho e estudo. Eles me tratam como inferior; como alguém que servisse somente para pilotar fogão ou ser serviçal.
Somos todos dotados de capacitação intelectual. Respiramos o mesmo ar; vamos ter a vida finda algum dia. Quando falo assim, estou emitindo um juízo de fato.
Quero poder também emitir meu juízo de valor. Por exemplo:
Quero crer que poderei olhar para as minhas experiências de vida e saber que as decisões que tomei foram acertadas. Que dei o meu melhor em tudo. Sei que alguns irão me julgar e apontar o dedo; outros irão me desprezar só pelo simples fato de estar divorciada. Saibam que não foi minha escolha. Nisto, eu fui coagida. Coagida pelo meu ex-cônjuge. Coagida pela falta de recursos. Fui obrigada, embora ninguém tenha apontado uma arma na minha cabeça, a assinar a papelada do divórcio.
Alguém pode dizer-me que deveria respeitar a vontade da outra parte envolvida. Porém, pense comigo. Depois de vinte anos de casada, se qualquer um fosse pego de surpresa com a notícia da separação, como reagiria? Principalmente sabendo que não tinha nenhum centavo no bolso para recomeçar a vida.
Continuo acreditando que o casamento é para a vida toda. Esta é minha opinião. Meu juízo de valor.
Assinei a papelada do divórcio. Sigo com a minha vida. O ex-cônjuge segue com a dele também. Sem inimizade. Entretanto, as cicatrizes ficaram. Elas são profundas. Criaram raízes de dúvida, de medo, de incertezas, de questionamentos. Enfim, qualquer divórcio é traumático. Não tenho dúvidas disto.
O que quero dizer, de fato é que sonhos podem acontecer. Podem continuar fazendo parte da nossa essência humana.
Se me perguntarem o que sonho hoje, direi que tenho inúmeros sonhos. Sonho com uma sociedade mais justa. Sonho com uma pátria de indivíduos livres; pessoas que possam escolher seus representantes sem serem manipulados pela mídia. Pessoas que escolham amar de verdade, sem interesses escusos. Sonho com a igualdade social nas filas dos hospitais, onde ricos e pobres tenham o mesmo tipo de atendimento. De preferência, um atendimento humano. Lembrem-se: NÃO SOMOS OBJETOS!
Tenho sonhado muitíssimo com a pátria celestial. Tenho sonhado com a minha entrada triunfal na Nova Jerusalém. E, lá eu sei que entrarei não pelos meus próprios esforços ou pela minha conta bancária. Lá, eu vou entrar porque o Senhor me comprou com preço de sangue. Lá se entra de graça. Uma graça que foi oferecida e foi outorgada antes da fundação do mundo.
Preciso dizer com todas as letras:
- Na Jerusalém celestial só entrarão os lavados e os remidos no sangue do Cordeiro! A minha entrada está garantida e a sua? Se não tem certeza, recomendo-lhe que fique nu. Desnude-se de todo orgulho, de toda avareza, de toda inveja e de toda omissão. Jogue-se aos pés daquele que Tudo pode: Jesus. Quem sabe ainda haja tempo para você se arrepender de todas as manipulações, as falcatruas. Ninguém entra sem o nome estar inscrito no Livro da Vida.
Tendo dito tudo isso, estou aliviada.  Enquanto estiver aqui, terei inúmeras desilusões. Terei inúmeras lutas e adversidades. Terei que engolir muitas palavras não ditas. No entanto, continuarei sonhando inúmeros sonhos. Ainda estou viva. SOU GENTE! NÃO SOU OBJETO! E você também não é!

 

 
 
Publicado no Livro "Contos que copiam os sonhos" - Edição 2018 - Novembro de 2018