Wagner Gomes
Caçu / GO

 

 

 

Transparência

 

Pairam sobre mim silêncios amordaçados,
carregados de algazarras contidas,
que se infiltram em meu corpo como agulhas impiedosas.
Rompem-se de mim gargalhadas escandalosas,
disfarçadas de alegrias saudáveis e contagiosas,
que fragmentam-se aos meus arredores em pequenas fagulhas.

Deveras que vens rompendo as últimas palavras,
donde as noites intermináveis escurecem solitárias,
para serem luzes escancaradas em meu silenciar.
Quem dera se por estas fendas ramificadas do meu olhar,
apenas uma destas milhares de entorpecidas palavras,
fosse capaz de derramar-se em amável sabedoria.

Mas assim, temo que todas elas afoguem-se,
ou simplesmente ocultem-se em minhas lágrimas,
que por não terem mais onde se esconderem,
tornam se gargalhadas incontidas e assanhadas.

Quem sabe por um breve e impensado acaso,
ou por obra de algo que chamam de destino,
eu realmente consiga dar nomes aos meus silêncios.

Mas se por um instante virem-me sentado a chorar,
não se preocupem, nem se impressionem.
Saibam que neste momento foram elas
que corajosamente assumiram sua identidade,
e silenciosamente verteram-se dos meus olhos.

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Raízes donde brotam meus versos" - Junho de 2019