Cleni Maria Guimarães do Livramento
Capanema / PA

 

 

Cobra grande não mastiga

                

 

Já havia se passado três dias navegando nas águas escuras do rio Acará, numa dessas pescarias em barco que parece um navio. Os vinte e cinco tripulantes entediados, vendo apenas céu e água, começaram a jogar baralho e brincar de Reto*, jogo em que os participantes munidos de “três pedaços de palito de fósforo, nos punhos fechados, posicionados nas costas, enquanto os outros teriam que adivinhar quantos pedaços de palito existiam em sua totalidade.
Toda empolgação dos jogos, não foi o suficiente para conter o medo, quando o grande barco foi erguido, como se fosse de papel, sem bater em nenhum tronco de árvore ou pedra existente na água escura.
Os tripulantes assustados, procuravam se agarrar em toras de madeira que o barco também transportava, sempre nadando, tendo como suporte baldes e caixotes. Os ribeirinhos que moravam alguns metros do local onde o barco alagou, foram chegando em seus casquinhos para socorrer e capturar objetos que ficaram boiando como panelas, latas e carotes. Após acomodarem as vítimas, deram por falta do capitão. Um ribeirinho afirmou que seria bem capaz que a cobra grande tê-lo engolido. Dias depois, o capitão da tripulação fora encontrado no mesmo local, boiando, sem vida, completamente desprovido da pele de seu corpo. Os ribeirinhos acreditam que o capitão foi cuspido pela cobra grande.

* Este jogo, no sul do país é conhecido por jogo de palitinhos, porrinha ou basquete de bolso.

 


 
 
Publicado no Livro "Só sei dizer que foi assim..." - Edição 2019 - Julho de 2019