Maria Rita de Miranda
São Sebastião do Paraíso / MG

 

Éramos seis

 

                

          Nascemos no seio de uma família estruturada e tradicional. Seis mulheres unidas por laços de sangue e afeto. Da mais velha a mais nova tinha um espaço de mais ou menos dezesseis anos, pois nossos nascimentos foram permeados por outros irmãos que hoje já estão em outro plano.
          Devido à diferença de idade as três mais novas eram cuidadas pelas mais velhas que lhes serviam de modelo e admiração. Suas roupas eram repassadas para elas bem como os objetos escolares. Tudo era aceito de maneira natural e as pequenas ficavam felizes vestindo roupas recicladas, cadernos e lápis já usados. Depois de crescidas e em ocasiões especiais recebiam roupas novas.
          Partilhávamos quartos, gavetas, toalhas. Tudo era fato para muita brincadeira e também brigas. Quando a irmã mais velha se casou foi motivo de festança em casa. Roupas e sapatos novos foram comprados para todas. No dia da cerimônia, que foi realizada na nossa casa, ficamos boquiabertas ao vê-la vestida de noiva saindo do seu quarto e se dirigindo para um altar improvisado na sala de visitas. Ela se mudou de casa, mas não de nossas vidas. Por muito tempo ela vinha ou íamos a sua nova morada todos os dias.
          Aos poucos, fomos nos casando. Já era uma rotina e um fato natural.
          Cada uma foi construindo o seu próprio núcleo familiar: casa, marido e filhos. Ainda nos encontrávamos toda semana na casa de nossos pais. A algazarra era garantida. Filhos pequenos brincando e muita prosa para colocar a conversa em dia.
          Com o passar do tempo e com a perda de nossos pais, os encontros semanais foram se dissipando. Algumas ainda persistem com as visitas periódicas, mas encontro familiar só mesmo no Natal.
          Nossos filhos já adultos formaram, por sua vez, suas próprias famílias. Passamos a nos encontrar cada vez menos. Cada qual ocupada com o seu novo núcleo familiar, visto que novas ocupações tomavam conta de nós com o nascimento dos netos.
          Problemas de saúde e familiar, quem não os tem? A nosso modo tentamos solucioná-los com maior ou menor resultado. Procuramos preservar a família, pois foi de nossa formação valorizá-la.
          Hoje, com todas acima de meio século de vida, voltadas mais para a própria família constituída,  torna-se quase impossível a convivência frequente..
          Às vezes bate saudade forte dos tempos de vida em comum e uma vontade, ainda que impossível, de revivê-los. Continuamos as seis, porém cada vez mais dispersas e naturalmente diferentes daquelas seis mulheres que compartilhavam o antigo casarão.

 

 

 

 
 
Publicado no Livro "Toma lá!!! Dá cá!!!" - Edição 2018 - Janeiro de 2019