Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

 

Poesia interiorana

 

A minha poesia respira existência
E com ela interrogo esse mundo de gente oprimida
A minha poesia grita com fôlego de quem não suporta mais
Ver tanta gente vestida de palavras falsificadas
Cantando canções fascistas, bêbadas e perdidas
No vácuo do não-sentido, num beco sem saída...
A minha poesia é feita de voz, som e melodia
Voz que angustiadamente luta contra as vozes dos opressores
Som que empodera o meu discurso
Enunciação embalada por versos que não se ajeitam
Em busca de encaixes perfeitos ou ritmos estruturantes...
Porque a minha poesia é desencontro, margem e desastre!
Poesia que não se revela em sua completude
Pois o seu interior é medido por olhos que veem
O infinito das palavras deixadas para trás...
Abandonadas por usurpadores do tempo presente!
A minha poesia é feita de células, tecidos, órgãos, sentidos
Onde a ela outras vozes se somatizam…
Vozes de protesto, feitas de palavras que removem o útero
De seu antigo lugar primitivo
Adentrada em seu complexo mundo interior
Sedenta por libertação, perdida numa noite enluarada
Dispersa de seu fixo lugar…
Ludibriada por fantasmas que adentram o caos mundo da poesia
Parindo, em forma de versos distraídos e tortuosamente oblíquos,
A escrita interpelada por vozes que ameaçam a ordem do tempo errante,
Escavadora de sentidos nutridos por um fio partido: é ela
A voz dilacerada que visita em noites enluaradas,
O poeta que sente o mundo tocar o seu vasto mundo interior.

 

 


 

 
 
Poema publicado no livro "Poemas Enluarados"- Edição 2019 - Novembro de 2019