Wagner Dias de Souza
Rio de Janeiro / RJ
Papo intergaláctico
Era madrugada de céu límpido, lua minguante e estrelas cintilantes. O baixo planetário estava bombando. Nesse ambiente fraternal, dois amigos interplanetários se encontram, meio que por acaso:
- E aí Hodgson! Passeando pela Terra?
- Pois é, rapaz! Resolvi dar uma passadinha por aqui para observar o universo de um outro ângulo. E para visitar os amigos, é claro! E você, Maurício? O que faz aqui a essa hora?
- Estou sem sono! Vim voar um pouco.
- Já consegue?
- Há algum tempo. Preciso sempre me exercitar, para não perder a forma.
- Que legal! Não demora muito e terá autonomia para visitar a minha casa.
- Que seja!
- Mas, me conta: quais as novidades deste lugar maravilhoso?
- Cada dia uma falcatrua nova, doenças antigas voltando à moda, inflação... o resto você já sabe. As coisas por aqui se modificam muito vagarosamente. Mas parece que vejo uma luz no fim do túnel. A justiça está dando sinais de que vai funcionar (com justiça), independente de classe social ou cor da pele.
E o seu planeta? Fale um pouco sobre ele. Você sempre disfarça, muda de assunto e nunca diz como é Palomaris.
- É que fico um pouco constrangido de falar, pois lá é bem melhor que aqui. Tenho receio de contar e vocês acharem que estou esnobando.
- Mas você sabe que entre nós não existe isso. Somos amigos ou não somos?
- Tá bom. Lá não existe corrupção, nem ricos, nem pobres. Tampouco miseráveis. Os direitos de cada cidadão são respeitados pelo Governo central.
- Governo central?
- Sim. Equivale ao presidente de uma Republica, como a sua. No nosso caso, o ocupante deste cargo governa todo o planeta. E cada país é gerenciado por um Ministro, com auxílio de um pequeno número de parlamentares.
- Interessante! Parece menos oneroso.
E é. Todo o imposto arrecadado é investido em educação, saúde e infraestrutura. Ninguém passa fome. O país que produz em abundância e não consegue consumir tudo, doa para aquele país que teve uma produção escassa, evitando assim o desperdício e a desigualdade.
- Caaaraca!
- Cada família tem direito a moradia própria e pode escolher onde morar. São domicílios amplos e confortáveis, construídos dentro de um padrão planetário. O morador só pode modificar o seu interior, decorá-lo a seu gosto.
- E como são as escolas?
- A educação é um direito de todos. O ensino é público, ou seja, não existe escola particular. Toda criança, ao completar dois anos de idade, obrigatoriamente é matriculada numa escola adequada a sua idade. Ali, ela aprende um pouco de tudo; higiene pessoal, higiene mental, ler, escrever, se socializar... e por aí vai. Em suas casas, os pais devem seguir o mesmo padrão.
- E corrupção? Existe por lá?
- Não há como haver corrupção, porque todo governante tem a obrigação de prestar contas à população, justificando cada centavo gasto.
- Pô, então não existe prisão nesse planeta?!
- Existe, embora praticamente vazia. Todos aprendem a respeitar as leis desde cedo, mas aquele que se descuida, cumpre pena pelo delito cometido, sem apelação.
- Mas não rola nem uma propinazinha por debaixo dos panos?
- Como eu falei, é tudo transparente. A população é muito instruída, não tolera ser enganada, assim como também não tolera enganar a ninguém. A honestidade de cada cidadão é que sustenta um planeta sem taxas extras, pedágios... esses penduricalhos fiscais que você conhece muito bem. Basta um imposto e todos os direitos estão garantidos.
- Huumm. Amigo, me parece que no seu planeta só existem anjos. Ou santos!
- Nada disso, caro Maurício! Lá, todos nos conscientizamos de que temos direitos e deveres. Podemos realizar todos os nossos sonhos. Desde que não prejudiquemos o outro. Aprendemos desde muito cedo que não há motivo para isso. Porque todo aquele que se esforçar, alcançará os objetivos, custe o tempo que for.
- Mas, e se o cara morrer antes de conseguir realizar tudo o que planejara?
- Morrer cedo é a coisa mais difícil de acontecer em Palomaris.
- Explica isso direito, sujeito! Vai me dizer que lá só tem imortais?
- Nada disso, amigo. A vida é que muito longa.
- Quantos anos em média?
- 350 anos.
- Oi?!
- Isso mesmo. Na escola, aprendemos que: ódio, mágoa, inveja, revolta e, principalmente, violência, minam a sua saúde do indivíduo. Aí, o sujeito morre precocemente, sem desfrutar os prazeres da vida.
- Então médico lá... morre de fome?
- Claro que não! É cultura planetária a medicina de prevenção. O médico tem trabalho, sim. Mas não tanto como aqui.
- Meu, o seu planeta é um paraíso!
- Pode-se dizer que sim. Mas aquilo tudo é resultado do esforço sincero de cada habitante. E se isso lhe servir de consolação, te digo que lá já foi como cá.
- A esperança é a última que morre!
Amigo, depois dessas revelações, fiquei interessadíssimo em conhecer a sua casa.
- Será muito bem-vindo. Só previna os teus familiares aqui da Terra de uma possível ida sem retorno, pois você pode gostar tanto de lá, que talvez não queira mais voltar.
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