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Lucas Pedroso Pereira da Costa
Gaspar / SC

 

Um passado presente

 

Como uma manhã normal, sol a pino, calor no chão batido, vento soprando levemente o que o tempo deixou caído sobre aquele solo. Leopoldo, um homem alto, que está mais para senhor, de pele escura, negro por melhor dizer, orgulho de seu sangue, alegria de sua cor, hoje caminha livre pelos campos afora.
Hoje, nesta manhã em especial, ele anda por um grande terreno deslumbrado com tudo ao redor. Ao entrar na casa pede sua licença, ainda que não precise dela, sua atual moradora o conduz ao interior com a maior leveza, encantado com o tamanho das salas, tantas salas, de jantar, de estar, de hospedes, tão imensos corredores, que conduziam a escadas, que alternavam os andares, e no segundo piso já se situando, vendo a imensidão de quartos, todos muito confortáveis, espaçosos. Tonto de tanta novidade, de tanto luxo e riqueza, conforto e comodidade, só poderiam ser coisas da nobreza. Realmente uma casa gigante.
  Ao sair pela porta da frente, a proprietária informou o que ele queria saber, foi então, com a permissão andando pelo campo da propriedade. Ele passa por um pedaço de árvore, na posição vertical, fincado ao chão; e um pouco se desestabilizou. Ao andar mais, encontra outra "construção" duas bases, como dois pés e uma vara sustentada pelos pés laterais, recordou-se disso e logo veio à náusea.
Percebendo seu mal-estar, caminhou em sentido único a uma construção que não ficava tão distante, semelhante a um alojamento, contudo rupestre, ao poucos que se aproximava percebia os detalhes um a um, a porta a qual tanto já havia entrado e saído. As paredes sujas, mal feitas, mal-acabadas, destruídas, outras manchadas, marcas de outro tempo, tempo de dor e podridão, junto das lágrimas de Leopoldo neste momento, lágrimas de alívio, lágrimas de lamento. Chorava por se lembrar de seu tremendo sofrimento nos tempos passados, seus e de seus companheiros, na época escravos. Mas agora tudo está mudado, vive livre, sem mais dor, sem mais ver seu povo sofrer.
Caminha rumo à saída da senzala, relembrando o pesadelo, passa pelo pau de arara, ao qual tanto já sofreu, pelo tronco que muito já chorou e apanhou. Chegando a Casa Grande, hoje de uma caridosa e bondosa senhora, agradece-a e beija-lhe levemente a mão e o rosto. Ela de tão puro coração que tem, o abraça e lhe conforta.
  Após tomar um café naquela imensa sala, Leopoldo decide ir para sua casa, retornar a sua função, e pela senhora foi muito bem compreendido. Ao sair, não andou muito e logo chegou a sua casa, sua pequena casa, onde vivia ele e sua atual liberdade, seus quadros ganhos de sua patroa que retratavam toda a crueldade que seu povo já sofrera. Agradeceu a seu Senhor, com preces e louvor, por hoje, ter tido a coragem, depois de tantos anos, ali no mesmo terreno trabalhando, vendo sempre a mesma casa, aquela onde morou, e aquela onde viveu, ter andado por dentro da Casa Grande como um homem livre, e voltado ao local de nascimento, crescimento e sofrimento para relembrar e demonstrar, que hoje, Leopoldo já não é mais escravo, não é mais propriedade, é um homem livre, vivo da cidade, que devido a grande honestidade e imensa caridade, a nova dona da Casa Grande, o contratou, com salário digno de cuidador, do terreno e da propriedade...

 


 
 
Conto publicado no livro "Contos Livres" - Abril de 2016