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Vani Soares
Franco da Rocha / SP

 

Catarina e o tesouro perdido

 

Catarina era uma boa mulher mas tinha um problema: bebia demais. Trabalhava em casa de família na época. A vida de empregada era bastante sofrida pois não tinha horário pra sair do trabalho. Catarina chegava cansada e ia para o fogão, e como de costume  abria uma garrafa de bebida e ia bebericando.
Passados alguns instantes, sua filha de três anos chegou no colo da vizinha que além de sentir pena da vida sofrida de Catarina lhe tinha uma sincera afeição.
- Catarin,a já fez a janta? Porque  essa pequena diz estar faminta e quer comer a comidinha da mamãe.
- Oi Luzia,e stou terminando e... onde está Antoninho? Já sei, ficou na rua olhando a molecada jogar bola, êta menino que gosta de bola.
- É isso mesmo, Catarina mas ele disse que já entra, é só mais um pouquinho.
Catarina teve Antonio muito nova, com pouco mais de quinze anos. O namorado quando soube fugiu e nunca mais se teve notícias do infeliz. Já Julia era filha de um caminhoneiro que pela cidade passou e se encantou com Catarina. E ela por ele.
Isac era o nome do motorista de caminhão, que viajava sempre e voltava cheio de amor e saudade, Catarina estava feliz e também Antoninho que ganhara um pai.
Mas, um dia, numa das viagens que Isac fazia com frequência houve um acidente ao qual Isac não resistiu e morreu deixando Catarina completamente desolada e só. Antoninho também ficou triste pois já se apegara ao motorista e até o chamava de papai.
Um ano se passou, Catarina retomou a sua vida mas não era mais a mesma,começou a beber e muitas vezes perdia dia de serviço por conta da bebida.
Luzia tentava ajudar no que podia e muitas vezes alertava Catarina.
-Ah, minha amiga, ando preocupada com você, principalmente quando sai com as crianças e bebe por aí. Antoninho já entende muita coisa e ele me contou que você bebe e manda ele pedir esmolas ele não gosta disso. Antoninho está muito triste com essa vida que você esta levando.
Catarina cabisbaixa prometia mudar e diz que não mais vai fazer isso.
Os dias vão passando e Catarina bebendo a cada dia mais, e acaba perdendo o emprego.
Antoninho agora tem onze anos é um garoto bonito pele morena e olhos bem verdes, engraxa sapatos outras vezes carrega pacotes para as senhoras que saem do supermercado. E assim vai ganhando seus trocados ajudando no sustento da casa, ou melhor, na sobrevivência dele próprio e de sua irmã menor. Catarina mais bebia e quantas vezes obrigava as crianças a pedir esmolas. Certo dia, numa dessas andanças, a polícia acabou encurralando Antoninho que foi levado para um abrigo de crianças que na época era chamado de Juizado de Menores. Catarina se desesperou mas não conseguiu tirar Antoninho de lá e começou a procurar por amigos para ajudá-la e quando conseguiram visitar Antoninho ele enviou uma carta para a mãe:
“Mãe, tô com saudade.
Quando eu sair daqui vou vender sorvete e todo dinheiro vou dar pra você mãezinha, eu sei que dá pra gente viver, só quero que prometa que não vai mais beber, por favor mãe não beba mais. Eu você e Julia seremos uma família de verdade e não vamos precisar de pedir esmolas, vou trabalhar vendendo sorvete e vou ganhar nosso sustento.
Mãe, beijos, te amo muito.
Antoninho”
Depois de muita luta, após dois meses Antoninho sai do Juizado e corre pra casa abraçar sua mãe e sua irmãzinha.Como ele havia prometido logo arrumou um lugar pra pegar sorvete e começou a vender, quando tudo parecia ir bem Catarina novamente recomeçou a se embebedar sair e obrigar as crianças a pedir esmolas. O tempo foi passando e nada de Catarina mudar de vida. Antoninho agora contava doze anos e meio e já não aguentava mais aquela vida, ficava triste de ver sua mãe sempre bêbada e eles a mendigar esmolas pelas ruas.
Um dia Catarina saiu com as crianças e estavam próximos a uma estação de trem e quando ela percebeu que as crianças já não estavam com ela. Antoninho pegou sua irmãzinha e chegou até a entrada da estação, viu que o nome era Brás, e enquanto observava percebera que um casal também os observava.
Antoninho deixou que o casal se aproximasse e quando perguntaram que faziam sozinhos ali ele respondeu: A gente se perdeu da minha mãe, vocês podem ficar com minha irmãzinha por um momento, sozinho será mais fácil encontrar minha mãe e essa foi a última vez que Julia viu seu irmão.
Catarina após sua bebedeira viu que as crianças ainda não haviam voltado e anoiteceu e amanheceu e nada das crianças. Foi assim que ela descobriu o tesouro que tinha nas mãos e não soubera dar valor, chorava pedia perdão mas por mais que se desesperasse as crianças já não estavam ao seu lado.
Catarina passava o dia à procura das crianças, os anúncios foram colocados pra todo lado e nada, a polícia no início até buscou bastante mas depois acabou no esquecimento.Mas, Catarina não podia esquecer e continuava as buscas sem descanso, até que alguém lhe disse:
- Catarina, vai lá no bairro do Kenvil, diz que tem uma benzedeira que faz umas rezas e vê tudo que acontece na vida da pessoa, quem sabe ela vê onde tá as crianças.
Catarina sem perder tempo se pois a caminho do Kenvil que ficava um tanto quanto distante. Chegando lá, logo saiu da casa uma mulher miúda mas de olhar firme e muito doce.Catarina nem explicou muita coisa, a senhorinha sentiu seu desespero e lhe pediu calma. “Deus há de mostrar aquilo que tiver que ser revelado, tenha fé.” A senhorinha fechou os olhos e passado um tempinho de rezas olhou pra Catarina e disse sua filha estava numa casa em Santos, com um portão alto na cor azul onde  mora um casal de pele escura. E foi dando todos os detalhes onde a pequena Julia se encontrava. Quanrto ao menino ela apenas disse ver ele num carrossel de cavalinhos como se fosse um Circo ou Parque.
Foi assim que Catarina encontrou sua filha Julia. Mas, Antoninho nunca mais ela o viu até o dia em que morreu.


 
 
Conto publicado no livro "Contos Livres" - Abril de 2016