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Neiva Terezinha Paludo Chemin
Pato Branco / PR

 

Juanita Bacana

 

Juanita Bacana, uma jovem sonhadora e muito atrevida, desfilava em uma das avenidas da cidade com passos apressados e olhar atento para o outro lado da rua, mirando um atraente rapaz.
Com passos ligeiros, não enxergando uma lixeira antiga na altura de suas pernas, ficou a cavalo na mesma. Pessoas que estavam ali perto, a acudiram: só não aguentaram de tanto rir. Foi muito cômico! Ela, com olhos arregalados, tentava sair daquela hilária situação.
Curiosa e no mundo da lua, Juanita entrava em duvidosas situações. Um dia, estava na sacada da casa onde morava olhando o alegre cacarejar das galinhas e o cantar do galo, o rei do terreiro. Ventava forte quando, do outro lado da rua, a vizinha gritou pedindo:
- Juanita, meu galo está aí?
O dono da casa se chamava Carlos. E Juanita ouvia: O Carlos está aí?
Logo respondeu:
- Não, ele viajou a São Paulo.
Foi uma troca de trapalhadas. Sim, não, não, sim...
- Ele foi a São Paulo? O galo foi a São Paulo? Como?
Depois de muito tempo de sim e não é que se entenderam. A vizinha falava do galo desaparecido e Juanita captava, o Carlos havia viajado. Ah! Juanita era uma figura...
Sempre muito romântica, não entendia bem as palavras. E as usava sem saber qual o verdadeiro significado...
Encantada e cheia ilusão, leu em um almanaque que uma linda jovem estava acorrentada na prisão de um castelo chamado Ventre. Logo imaginou, decorou e guardou a linda frase do anúncio para uma ocasião especial.
Ao anoitecer de um domingo, indo para casa acompanhada de um jovem apaixonado, palavras e mais palavras... Vagarosamente caminhavam os sonhadores quando ela disse a ele com doçura:
- Você é minha prisão de ventre.
O rapaz, sem saber o que responder, riu muito. Ela ficou encucada.
Entrando em casa, falou para os familiares o que havia acontecido. Todos ficaram de boca aberta! A prima indagou:
- O que você disse? Sabe o que isso quer dizer?
Depois de ouvir o significado, Juanita ficou vermelha de vergonha e por um bom tempo evitou se encontrar com o moço.
Juanita não tinha jeito mesmo, era muito sapeca. Um sábado, estava para chegar visita à casa da prima. Esta, logo apressou-se em fazer uma gelatina utilizando vários pacotes para ficar uma sobremesa grande e impressionar.
Depois de pronta, deixou em cima de um balcão para esfriar e logo colocar na geladeira. Juanita não resistiu aquele líquido vermelho e cheiroso. Pensou: Ah! Vou experimentar. Sem fazer barulho, pegou o prato e bebeu...
Era tão bom que bebeu até restarem apenas dois dedos de líquido no fundo do pirex.
A prima chegou à sala para pôr a gelatina na geladeira. Olhou e não acreditou!
- Onde está a gelatina? Meu Deus! Quem fez isso?
Juanita, com cara de condenada, não teve como negar.
Os dias passavam e Juanita não parava de aprontar. Morava quase na frente de um armazém. Ali eram comercializados farinha em saco, açúcar, feijão, arroz. Tudo aberto e jogado em tulhas para serem vendidos em quilo, pesados na frente do freguês e embrulhados em uma folha de papel. Com os dedos trançavam o pacote que ficava bem fechado. A bolsa de farinha de trigo era de algodão cru e aproveitada para fazer fronhas e tudo mais. Tecidos eram escassos naquela época.
Era 1957. Ao passar perto da cerca onde moravam os donos do armazém, Juanita arregalou os olhos... O varal com roupas estendidas chamou a sua atenção! Ali havia uma roupa íntima de mulher, tamanho enorme, com a marca de uma parte do saco de farinha em letras grandes que dizia: É da boa. A roupa íntima devia ser da dona do armazém que era bem avantajada.
Por muito tempo, aquela imagem ficou instigando a imaginação de Juanita que só sossegou depois de ganhar uma peça parecida com a do varal.
Depois de muitos episódios na pequena cidade, Juanita resolveu morar na capital. Rodopiou, estudou e aproveitou...
Encontrou um viúvo rico que rodava e acelerava seu Maverick amarelo, na frente da sua casa. Com o charme do galã, ela se interessou e marcaram casamento.
Noite linda, de lua cheia, a igreja toda iluminada, decorada com centenas de flores naturais. Um esplendor! Padrinhos da alta sociedade, coronéis, parentes e amigos esperando a hora da cerimônia. A noiva chegou muito linda! Cor salmão. Iria entrar. O noivo deveria estar esperando no altar, mas, cadê o noivo? Essa era a pergunta que todos se faziam. A espera já passava de uma hora. E nada do noivo... A sobrinha ao lado sussurrou:
- Tia, é noite de lua cheia. Acho que a bruxa sumiu com o noivo.
Mais um tempo, até que o noivo apareceu carregado e duro de pinga, não ficava em pé. Pela decisão do padre não haveria enlace naquela situação.
Todos ficaram apreensivos e sem saber o real acontecido. Sem cerimônia, sem doces, salgados... Que decepção! Pobre noiva!
Dois dias depois, Juanita pegou o noivo pelo pescoço e o levou cumprir o tratado. Duas testemunhas e nada mais...
Naquele momento começou uma nova vida, muito intrigante! Na noite de núpcias, ela vestida de baby-doll preto e ele com um cuecão. A luz vermelha do abajur enfeitava o ambiente em clima de encantamento. Meia-noite, o noivo pula da cama e começa a pinotear como um galo amarrado pelo pescoço, uma bailarina doida. Juanita pensa: Meu pai, será que casei com a Pomba Gira?
Assim foi a lua de melado de Juanita.
Casados e bem complicados, na casa de praia só ela trabalhava. Ele, como um lagarto ou uma lagartixa, ligeiro sumia com o vento a tomar alguns goles sentado à beira do mar, com um anzol. De repente, virava cambalhotas. Uma apresentação escandalosa ao ar livre, para agradar ou tapear a boa pinga que estava na cuca.
E o espetáculo não podia parar, pegava o tripé para tirar retratos das pessoas. De lá para cá e de cá para lá, horas fazendo pose. No final, não havia filme algum na máquina. Que sacanagem! Quando não bebia era uma pessoa educada e de bom coração.
Enfim, Juanita Bacana, jovem sonhadora e atrevida, bonita e formosa, disposta e curiosa, no Maverick amarelo, ao lado do marido travesso, por um tempo, viveu feliz...

 

 
 
Conto publicado no livro "Contos de Outono - Edição 2016" - Agosto de 2016