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Otaviano Maciel de Alencar Filho
Fortaleza / CE

 

A sina de cada um

 

   Reza a tradição popular que existem indivíduos que desde o nascimento estão irremediavelmente submetidos ao sucesso ou ao fracasso, a sorte ou ao azar, a saúde ou a doença, e a tantas outras situações de oposição que fazem parte da vivência do ser humano.
 Sem fazer juízo desta assertiva relatarei o caso de um indivíduo que parece justificar esta proposição.
O designarei pelo nome de C.. Porém, antes de contar algumas situações embaraçosas, ocorridas no dia a dia, conhecidas por todos aqueles de seu círculo de amizade, procurarei traçar um pouco o seu perfil.
C.. é um sujeito de estatura mediana, barriga saliente e portador de um trejeito que lhe dera o divertido apelido de “bicudo”, pois vivia “fazendo bico” com os lábios. Um tanto intempestivo, é daqueles que não leva desaforo para casa. É pavio curto! Mesmo assim é muito vaidoso: Gosta de andar na “pinta”, curtir músicas internacionais “dance”, dos anos oitenta e aos finais de semana, especialmente na sexta feira, tomar “uma gelada” com alguns colegas de trabalho. Tempos atrás fez “luzes” no cabelo, procedimento este que o deixou mais jovial, afinal já era um “quarentão” chegando aos cinquenta. Essa mudança fez com que os companheiros de trabalho tirassem sarro de sua atitude em pintar os cabelos naquela tonalidade. Passou uma semana injuriado, s em falar com ninguém, “fazendo bico”.
Certo dia quando o expediente terminara, ele e alguns colegas encontravam-se no ponto de ônibus, aguardando a chegada do coletivo. Por sobre suas cabeças passou um bando de pombos e um deles soltou uma rajada de fezes bem em cima de sua cabeça. Foi o suficiente para que ficasse aborrecido até o dia seguinte.
Dias atrás, meio dia e com o sol a pino, na casa dos 40°C, estava ele em pleno desenvolvimento das tarefas relativas ao seu trabalho, que é a distribuição de correspondências a domicílio, quando um senhor que fazia uma mudança, achou por bem pedir que ele o ajudasse a subir um guarda-roupa para o andar superior da residência, mesmo em meio a várias pessoas que transitavam pelo local, o homem não quis nem saber se ele estava ocupado, o que o deixou irritado, mas mesmo assim cedeu ao pedido.
Os acontecimentos na vida de C.. parecem corroborar o ditado popular, pois que outras situações constrangedoras continuaram e continuam a acontecer.
Outro dia, em sua tarefa diária, ao colocar uma correspondência em uma caixa receptora, seus dedos ficaram presos na mesma. O problema foi que para colocar a carta ele teve de dar um salto, pois a caixa era muito alta, com os dedos presos, ficou na ponta dos pés durante quase meia hora em um sol escaldante, até que apareceu alguém para ajudá-lo a sair dessa situação.
Os companheiros de trabalho dizem que isto acontece porque ele reclama de tudo. Mas, a bem da verdade, o que C.. quer é ver as coisas funcionando como deveriam funcionar: Tudo certo, no seu devido lugar. Mas como nem tudo ocorre da forma como deseja, ele irrita-se e fica indignado com certos acontecimentos.
Só mais um caso para não passar em branco: De outra feita, C.. estava em uma bicicleta e como a entrega dos objetos era dentro de uma vila, e não dava para entrar com a “bike” ele a deixou encostada em um poste na entrada do beco e foi até a residência fazer a entrega do pacote. Quando retornou a bicicleta tinha caído e a bolsa com as demais correspondências tinha caído também, embaraçando todas elas. Tomado de insana cólera, ele segurou a bicicleta e a levantou jogando-a no chão varias vezes, dirigindo-lhe impropérios diversos, como se estivesse a falar com alguém.
C.. ainda está firme e forte, e se é verdade que a voz do povo é a voz de deus, muitas outras situações cômicas ainda estão por vir!   

 
 
Conto publicado no livro "Contos de Outono - Edição 2016" - Agosto de 2016