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Teresa Cristina Cerqueira de Sousa
Piracuruca / PI

 

Casa no interior

 

 

O calor da tarde entra pela janela. O suor me escorre pelo rosto e desliza até meus seios. Minha nossa!... Meu corpo vai pegar fogo, de tão quente que está o mês de junho! Eu deveria tomar um banho em uma piscina gelada, chupar um picolé, beber uma limonada...!
Sorrio. É uma sensação de estar de bem com o dia. Hum, que este momento me lembra de um dia na infância numa casinha no interior do Piauí...
Minha tia Joana tinha uns capotes e as vozes deles cantando ao início da tarde eram embalo do sono... E escutava-se até que eu adormecia. Eu acordava desses cochilos e sempre ia tomar um cafezinho com cuscuz, embora o calor dominasse por toda a casa. Parecia que o sol insistia em dizer que estava ali para encarar tudo – de dentro da casa até onde o quintal se prolongava diante de meus olhos.
Um dia, após um desses cochilos, avistei uns papagaios em cima do teto de palha da casinha das galinhas. Lá no alto, eles se beliscavam no bico.
- Estão se beijando! - disse-me minha tia.
Olhei com mais curiosidade, admirando o terreiro varrido com vassoura de alecrim da porta da cozinha indo pelos pés de cajueiros floridos e das mangueiras carregadas de folhas novas. Ao lado do galinheiro, havia um mamoeiro, arredondado de frutos verdes na copa. Mais distante, um pouco à direita da porta da cozinha, havia o poço. Talvez o cheiro da água fresca numa bacia ao pé deste fosse o responsável pela vinda das aves.
Minha tia deu alguns passos perto de mim toda faceira em seu vestido de chitas e, logo, adentrou para a cozinha.
Encheram-me os olhos o verde-amarelo dos papagaios. E alonguei meus pensamentos nas folhas das plantas. Sentia um desejo de quê?
Talvez eu quisesse comer daqueles mamões quando estivessem maduros lá no alto dos galhos mesmo!... Mas não pude concluir a ideia... Meu tio chegou bêbado da rua, como era costume aos domingos.
- Enfim, ele dormiu! - Minha tia murmurou, sentando-se ao meu lado na varanda.
Era quase o anoitecer. Voltavam para casa os jumentos – ploct-ploct! – num passo cansado de andar procurando capim no mato por todo o dia. Ela também me pareceu cansada. Que podia eu fazer?
-  Sente aqui um pouco, tia. Amanhã eu irei voltar para minha casa.
Tia Joana sorriu, timidamente, abaixando no gesto a cabeça. Mas falava gostoso como música na boca de menina feliz.
- Ah, querida! Sua visita foi tão rápida!
Que bom que ela tinha aquela expressão afetiva! Talvez eu leve esse carinho para meus netos.

 

  

 
 
Conto publicado no livro "Contos de Outono - Edição 2016" - Agosto de 2016