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Paulo Roberto Chaves
Rio de Janeiro / RJ

 

Dona Boca

 

          No interior da cidade de Araruna, morava uma senhora  cujo apelido era Dona Boca, pelo fato de ser desdentada. Fumava cachimbo com fumo torcido e por onde passava, cuspia no chão. Entretanto todos admiravam sua excelente missão de rezadora. De ventre-caído a mau-olhado a todos ela rezava. Dona Boca era de “amarga”, não levava desaforo para casa. Certa vez, o prefeito de Araruna após ter sido rezado de mau-olhado por ela, prometeu. “Vou lhe dar uma boca, e quem a senhora indicar também vai ser agraciado”. Visto que era ano de eleição, pensou de ser tratar de um emprego na prefeitura, e de imediato começou fazer a sua lista: Sua família de dez filhos mais nora, os amigos mais achegados, enfim, mais de cinquenta pessoas.
          Alguns dias depois, Dona Boca foi à prefeitura levar a lista. Não pôde ser recebida pelo prefeito que, segundo a secretária Valeria, estava em reunião, mas a sua lista foi entregue e o prefeito mandou um bilhete que dizia: “A senhora estará entrando no próximo ano de sorriso de orelha a orelha”, e estaremos na festa do município, encerrando a minha campanha. “E não esqueça: traga todos da sua lista”. Dona Boca não perdeu tempo. Foi à igreja e ajoelhou diante dos seus santos de adoração, confirmou a sua promessa. Meu santo pai, no dia “em que” o prefeito me empregar, eu e o meu pessoal, todos pagaremos a nossa promessa com duas galinhas e quem tiver posse, com uma cabrinha. O padre ouvindo a promessa, já veio esfregando as mãos e olhando para os lados murmurando: “agora resolvo o meu problema”.
               No dia da festa do padroeiro, o encerramento da campanha do prefeito, todos estavam presente: O prefeito, o padre, deputado e os vereadores. No palanque, todos sorriam e acenavam Dona Boca, com duas galinhas e uma cabrinha liderava seu povo que traziam as suas promessas. O padre estava no palanque e esperava receber os donativos para a sua paroquia. De repente, “sobe” no palanque um homem barbudo com dois sacos nas costas e o prefeito grita: Agora chegou o sorriso de vocês! Dona Boca é convidada a subir no palanque, porem não larga as duas galinhas. O prefeito eufórico grita: “És a nossa contemplada numero um” e enfiando a mão em uns dos sacos pega uma dentadura e manda-a experimentar. Ela olha para o prefeito, tira o cachimbo da boca e da uma cuspidela no chão e grita: “Que sorriso de orelha a orelha no ano que vem é esse seu prefeito? Pois enfia essa dentadura em outro lugar e não na minha boca, porque preciso de uma boca de trabaio e não uma dentadura”. O prefeito, sem graça tenta argumentar e a confusão começa. O padre tenta segurar as galinhas, mas ela puxa e as joga no prefeito, os dois sacos de dentadura caem do palanque, o deputado é empurrado e cai sentado em cima dos sacos, o povo invade, e no meio da poeira, pessoas sorrindo com dentadura enorme dentro da Boca, galinhas voando, cabritas pulando e berrando e Dona Boca xingando.  Assim termina a festa da campanha do prefeito de Araruna. 

 

 

 
 
Conto publicado no livro "Contos de Outono - Edição 2016" - Agosto de 2016