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Maria Rita de Miranda
São Sebastião do Paraíso / MG

 

Casos de abelhas

 

               O zum... zum... das abelhas, quando em enxame, é amedrontador. Vira uma sinfonia e indica que elas estão prontas para o ataque. Só quem já deu de frente com tantas abelhas sabe o quanto este inseto pequeno, responsável pela doçura do mel, pode causar grandes danos. Isto sem falar de que quem é alérgico à sua picada se apavora quando vê apenas uma delas.
          Mas acontece que existem casos engraçados, sem querer fazer humor negro, de enxames de abelhas.
          Certa feita, num sobradinho onde funcionava uma escola, estávamos colocando nossos alunos para as classes, quando um corre, corre chamou a atenção de todos. Os pequenos de seis anos já tinham subido juntamente com a professora Tetê, uma senhora muito calma, elegante e sempre bem vestida, a escada de madeira que levava à sala de aula.
          Ao ouvir o tremendo burburinho saí à porta de minha sala. O que vi foram os pequenos alunos descendo os degraus em correria, um atropelando o outro e atrás de todos, a professora. Quando a vi, não pude deixar de rir. Ela estava com os braços para cima e o cabelo, até então alinhado com o spray de laquê, todo embaraçado, espetado mesmo. Ainda posso escutar o toc, toc do pequeno salto de seu sapato em atrito com a escada de madeira.
          O que teria acontecido?
          Ao adentrarem a sala, foram surpreendidos com as abelhas que voavam por todo lado. Saíram em disparada escada abaixo provocando todo aquele alarido. Tudo ficou só no susto. Ninguém foi gravemente picado. Só dona Tetê teve que desalinhar todo o cabelo para retirar uma abelha entrona.
          De outra vez uma amiga, a Clélia, que tinha o hábito de, aos domingos, ir almoçar com o marido Tom em Termópolis, nossa estância hidromineral, também assistiu a um sufoco semelhante. Sempre iam com mais dois ou três casais amigos. Um levava uma panela com o arroz já pronto, outro o frango ensopado, ainda a salada de legumes que não podia faltar, além dos refrigerantes. Iam literalmente almoçar fora de casa. Estendiam uma toalha no gramado perto da piscina e ali se deliciavam entre prosa, comida e bebida.
          Saíram desta vez bem cedo para aproveitar o ar puro da manhã de domingo. Chegando a Termópolis, deixaram o almoço num local fresco e foram fazer a caminhada matinal pelos arredores. Pretendiam assistir a missa na capela local, celebrada por um sacerdote que se deslocava de sua cidade para ali levar a palavra de Deus.
          Perto das dez horas, apertaram um pouco o passo para assistir a celebração. Ao se aproximarem, escutaram apenas uma badalada do sino que era tocado pelo padre. Em seguida a algazarra foi geral. Avistaram o padre correndo na frente tropeçando na batina que era erguida por uma das mãos e os fiéis correndo atrás.
          O que seria aquilo? Será que queriam pegar o padre? Nada disso. Um enxame de abelhas voava na direção deles.
          Os casais se estacaram e ficaram observando a cena do corre... corre. Alguns entraram num barracão, outros pularam na piscina. E o sufoco passou. Quando procuraram saber como tudo começara, se certificaram de que o padre ao tentar tocar o sino, jamais podia imaginar que as abelhas ali estavam alojadas. Com o primeiro badalo elas saíram de uma só vez. O padre gritou, os fiéis se assustaram e a correria foi geral. E risos também.
          Mais ainda esta: esta mesma amiga a Clélia e seu marido Tom, foram passar um final de semana num sítio de que eram proprietários. Gostavam de montar a cavalo e galopar pelas pradarias sentindo o vento bater forte em seus rostos corados. Neste dia, embrenharam com o cavalo pampa e o marronzinho por um caminho estreito que antes nunca haviam ido. Diminuíram a marcha e vagarosamente se deliciavam com o trotar lento dos animais. Já estavam decididos a voltar, quando ela avisou mais à frente uma goiabeira com alguns frutos bem apetitosos. Disse ao marido que iria apanhá-los, ao que ele respondeu:
           -Se quiser vai você, eu não me arrisco.
          Ela foi. Quando levantou o braço, de cima mesmo do cavalo, para apanhar uma goiaba suculenta, o galho balançou e elas, as abelhas, apareceram. O cavalo empinou, jogou a moça ao chão e saiu em disparada. Clélia não se levantou. Rolou barranco abaixo até chegar próximo ao Tom.
          -O que aconteceu, perguntou ele. Onde está o animal?
          Não esperou a resposta. Avistou o enxame, saltou do seu cavalo que saiu galopando e também se deitou no chão. Escaparam por pouco. Ouviram por sobre suas cabeças o zum... zum... interminável. Quando tudo acabou riram de si próprios. Clélia não conseguiu nenhuma goiaba. Caminharam ofegantes até a casa da fazenda e pediram ao caseiro que fosse procurar os animais.
          Casos de enxames de abelhas... que terminaram bem!

 

 
 
Conto publicado no livro "Contos de Outono - Edição 2016" - Agosto de 2016