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Otaviano Maciel de Alencar Filho
Fortaleza / CE

 

A farsa dos feijões verdes

 

Domingo de sol radiante. A feira livre que acontecia todos os finais de semana, em bairro suburbano, estava efervescente. Os feirantes disputavam os fregueses que ali iam adquirir desde gêneros alimentícios aos mais variados tipos de mercadorias, tais como: Roupas, sandálias, panelas, brinquedos, artigos “Made in China” e muito mais.
Em um lugar privilegiado no centro da feira, encontrava-se uma pequena banca onde o vendedor oferecia feijões verdes.
Não era época de colheita de feijão, no entanto o vendedor assegurava que os mesmo provinham de uma região em que a plantação deste tipo de grão não sofria com a falta de água, pois se tratava de agricultura irrigada, portanto feijão verde era o que não faltava.
Aos “berros”, anunciava o produto elogiando sua qualidade e procedência:
- Olha o feijão verde, fresquinho e de boa qualidade!
Aos poucos as pessoas iam adquirindo o produto, e em menos de duas horas o estoque que havia levado para venda havia esgotado.
Um dos compradores do feijão, seu Manoel, assim que chegou a sua casa solicitou que sua esposa fizesse um bom “baião de dois”. Sem cerimônia, dona Maria, sua patroa, tratou de imediatamente colocar a água no fogo para o preparo da comida.
Enquanto o feijão cozinhava, dona Maria colocou o arroz no fogo e foi cortar os legumes e as verduras que seriam adicionadas ao cozimento dos cereais para dar um sabor especial ao prato. Neste interim, Manoel vai deitar-se no sofá da sala e assistir televisão enquanto o almoço não fica pronto.
Alguns minutos depois a mulher vai até o fogão e desliga o fogo do arroz, que já se encontra no ponto, e destampa a panela do feijão para colocar os temperos e ficou surpresa quando notou que o caldo estava verde e os feijões brancos. 
- Manoel, vem cá homem, onde compraste este feijão? – Perguntou curiosa.
- Na feira Maria, por quê? – respondeu de prontidão.
- Porque tu foste enganado homem. – revelou.
- Como enganado mulher, são feijões verdes não são? – Disse.
- Não, não são feijões verdes, são feijões brancos pintados de verde. Olhe só a cor do caldo. - Falou a mulher revelando a trapaça feita pelo feirante.
- Canalha esse vendedor, bem que eu estava desconfiado de sua lábia. – Desabafou.
- E agora, o que fazer. – perguntou sua companheira.
- Vou pegar esse sujeito e dar-lhe uma lição. No próximo domingo vou novamente à feira e ele vai “ver o que é bom pra tosse”. Aproveito e compro feijão verde em um lugar que tenha procedência. Jogue tudo isso no lixo, pois pode fazer mal a nossa saúde. Para o almoço prepare qualquer coisa para nós comermos. – Sentenciou, enraivecido!
No final de semana seguinte seu Manoel foi à feira e encaminhou-se até o local onde o feirante costumava ficar. Lá estava ele, e ao seu redor um monte de pessoas que ameaçavam lixá-lo. Eram os fregueses do domingo passado, que também foram ludibriados pelo falsário.
O homem estava cercado. Todos pediam de volta o dinheiro que tinham dado na compra dos feijões. Alguns mais exaltados chutavam os caixotes em que suas mercadorias estavam expostas, levando-as ao chão.
A polícia foi chamada e o farsante foi detido e levado à delegacia juntamente com as pessoas envolvidas no caso, para que se esclarecesse o acontecido.
Diante o delegado o meliante confessou que tingia os feijões brancos de verde, explicando que os colocava dentro de uma bacia grande com água e acrescentava corante verde deixando-os de molho de um dia para o outro, assim no dia seguinte eles estavam bem “verdinhos”.
Feita a confissão a autoridade policial o enquadrou em crime fraude, prevista no artigo 175 do Código Penal Brasileiro.
Seu Manoel e todos os envolvidos na trama voltaram as suas casas de mãos abanando. No entanto, todas elas levavam consigo o sentimento de dever cumprido diante tantas arbitrariedades provocadas por alguns indivíduos nocivos à sociedade.
Quando aportou a casa Manoel foi arguido por sua esposa:
- Então, Manoel, conseguiu o dinheiro de volta. – Perguntou ansiosa.
- Não, não consegui. – respondeu o homem.
- Mas compraste feijão verde em outro local? – Perguntou, novamente.
- O seguro morreu de velho, minha querida. De hoje em diante, “baião de dois” com feijão verde só em época de colheita. – Sentenciou.

 

 
 
Conto publicado no livro "Contos do Vigário e outras Picaretices" - Julho de 2016