Primeira vez neste site? Então
[clique aqui]
para conhecer um pouco da CBJE
Antologias: atendimento@camarabrasileira.com
Produção de livros: cbje@globo.com
Contato por telefone
Antologias:
(21) 3393 2163
Produção de livros:
(21) 3547 2163
(21) 3186 7547

Neri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR

 

O senhor Ladrão

 

Os cavalos eram o grande bem lá nos idos passados. Eram mais importantes do que os carros de hoje. O moço que tivesse um cavalo bem aperreado tinha a namorada garantida. Um animal bem arreado e deixado no curral da fazenda, às vezes amarrado na porteira, ou no pau do terreiro, outras ainda solto ali na grama em frente à casa.
Antigamente, sempre tinha o ponto de carroceiro ou do cavaleiro com os bebedouros. Com água corrente, sempre limpa. Era só encostar o animal, bebia à vontade Às vezes, quando o Sol estava muito quente, descansava e depois continuava o seu serviço. Tinha alguns lugares que vendia a cana, a alfafa picada, o milho para os que andavam a cavalo.
Os animais andavam soltos. Nem sempre havia potreiros, nem era preciso amarrar o pobre bicho no pasto. Ele, o cavalo, não saía longe. Como eram animais conhecidos na redondeza, se fossem pastando por alguma picada, eram trazidos de volta.
O problema era o roubo. Esse animal equivalia a ter um automóvel. Assim, cada proprietário tinha sua marca no lombo do animal. Essa era feita com um ferro quente. Toda uma técnica era seguida, o ferro não podia ser muito grosso, nem largo demais. Ainda era preciso muita atenção, com a temperatura. Queimar, só a pelagem para a pele não inflamar. As iniciais do nome eram as identificações preferidas. Às vezes, um desenho bem simplório também era usado. A marca era registrada, em cartório, tamanho era o valor do cavalo. O proprietário recebia um certificado. O problema era quando o esperto do ladrão colocava mais um sinal e fazia o registro em outro cartório de outra localidade. Podia ser até um pangaré, mas era uma montaria.
 Uma ocasião sumiram duas mulas do potreiro de um senhor na Encruzilhada de Villa Nova. Depois de muito procurar em outros potreiros ou mesmo nos carreiros onde os animais poderiam estar pastando tranquilamente, nada das duas. Veio a certeza. Só podiam ter sido roubadas.
 Naquele tempo havia também os bandidos, esses eram quase que de estimação. Todos sabiam quando eles estavam na região. A comunicação feita boca a boca, de compadre a compadre.
Esses senhores bandidos, eram bem atendidos, assim como os cavalos da época. Eles recebiam pouso, ou nos galpões ou então no relento embaixo de um copado cinamomo, se fosse verão e não tivesse chovendo.  Era o sinal de que o proprietário do sitio pedia proteção. Muitas vezes até alimentação recebiam. Quem fosse amigo protetor de um bandido era respeitado pelos outros malfeitores. Sentia-se apadrinhado.
Assim o proprietário das duas mulas recebeu muito bem, os dois temidos, cruel e mau-caráter. Relatou a eles a necessidade, o carinho que todas da casa, tinham pelos animais.
Em agradecimento pela boa acolhida, os dois salafrários  acrescentaram  em suas tarefas diárias mais uma, a de localizar os animais.
Passado mais ou menos um mês, um dos senhores bandidos retornou à propriedade com uma proposta.  Os seus animais estão longe daqui, lá no vizinho Estado de Santa Catarina. Encontrei-os com um comprador de cavalos. É preciso pagar uma recompensa, assim, ele devolve os cavalos. Quer que nós busquemos para você? Conhecendo a índole dos dois, achou melhor não aceitar a proposta.
Disse: - Eu mesmo vou até lá. Tenho que conversar com esse senhor ele é compadre do meu compadre mais achegado.
Mas agradeço muito o empenho de vocês, sempre que precisarem venham pousar aqui no sitio, faço uma galinhada para os dois, no capricho e, dou restolho para os cavalos.
Mas o Senhor em questão, dono dos equinos, muito esperto foi acompanhado pelo capanga do Senhor Delegado, do pequeno povoado, em busca do que era seu.
As mulas, só sairão daqui com uma ordem do Cartório local. Pois eu as comprei. Disse com firmeza, o mais novo dono dos animais
Era esse, um comprador de animais roubados para depois revender para compradores de São Paulo.
O dono do Cartório, afirmou: - o que tinha que ser feito era dar um tiro na testa desse vigarista.
Nada se parece com os tempos atuais. Apenas se troca o objeto.
Nem com o capanga do Delegado os animais voltaram para o verdadeiro proprietário.
Outra história interessante foi de um roubo. Um roubo, mais complicado, pois o animal pertencia à parteira da Villa.  Como iria ela realizar seu trabalho? Quem precisasse, teria que trazer com sigo, mais um animal para levá-la ao atendimento de trazer ao mundo mais um Cidadão.
 Assim toda Villa se empenhou, para encontrar o dito cavalo. O roubo foi como se fosse do animal de cada morador. Além e ser um belo cavalo, era muito especial, instrumento de trabalho.
Como um dos ladrões afamados, muito conhecido de todos estivera pernoitando nas proximidades, recaía sobre ele a desconfiança. Mas não se podia chegar assim, sem mais nem menos e o acusar.
Foram conversando, na prosa foi dito que uma senhora precisava muito de seus favores, queria ela, conversar com ele. Oferecia pouso, com janta para ele, com trato para o equino. Foi a isca perfeita.
O dito cujo veio até a propriedade. Ali, consternado, ficou sabendo das características do animal, da necessidade que tinham dele.
 Não sabemos mais onde procurá-lo: falou aflita a Senhora parteira.
Comovido o senhor ladrão disse:
Irei procurar para Senhora, daqui três dias, o trago de volta. Esse era o tempo para o disfarce. Foi até o proprietário ao qual havia vendido o animal. Conversaram um bom papo entre amigos. À noite não deu outra, roubou o animal outra vez e o trouxe até a Senhora Cegonha.
Recebeu muito elogios pela boa ação. Agradeceu a todos eles dizendo:
- A senhora é um anjo. Ninguém pode roubá-la. Eu a protejo e, ai se eu me encontrar com o desgraçado que fez isso.
Partiu feliz! Tinha feito uma boa ação.  

Histórias vividas há mais de cem anos, porém parecidas com as de hoje. Podem até ser um pouco o Conto do Vigário, mas essas foram Verdadeiras.

 

 
 
Conto publicado no livro "Contos do Vigário e outras Picaretices" - Julho de 2016