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José de Sousa Magalhães
Piracuruca / PI

 

E se não fôssemos crianças...

Dizem que quando o amor tem que acontecer, acontece. Não importa o quanto demore, ele dá um jeito de acontecer. A mágica do amor é algo que atravessa fronteiras, derruba barreiras e sempre vence no final.
Heloísa é uma  pequena garotinha de 11 anos que de vez em quando viajava para o interior durante às férias de verão. Sempre na compahia de seus pais, ela ia a uma pequena casa que eles tinham em um local mais afastado da cidade. Não era exatamente uma fazenda ou mesmo um rancho, era apenas uma casinha longe da cidade grande.
Certa vez Heloísa estava brindando em um pequeno parque bem próximo da casinha, estava a poucos metros de seus pais quando foi surpreendida por uma bola de futebol em seu rosto.
- Quem foi o idiota que...
- Me desculpe! Acabei não percebendo. Sinto muito. - Disse Roberto, um garoto de 13 anos, cabelos meio ruívos e olhos verdes. A menina ficou sem reação, mas não perdeu a oportunidade de lhe dar um belo grito e xingamentos. O menino apenas sorriu e disse:
- Deixa eu cuidar desse seu ferimento. Disse ele limpando um arranhão que estava sangrando na testa de Heloísa.
- Obrigado. - Agradeceu ela.
- Sou Roberto. - Disse o menino estendendo a mão.
- Heloísa. - Respondeu ela inquieta e apertando sua mão. Depois do pequeno acontecimento os dois passaram a se encontrar praticamente todos os dias no parquinho durante as férias, brincavam, contavam histórias, cantavam e até memo estudavam. Certa vez o menino olhou para Heloísa dizendo em tom triste:
- As férias estão quase acabando.
- É.
- Você está vendo aquela casinha lá em cima do morro?- Disse o menino apontando para uma casa relativamente grande, bem no alto da montanha.
- Hurum. - Confirmou ela com a cabeça.
- Eu moro ali. Quando você voltar pode ir lá e bater na porta, que eu vou lhe receber. - Disse Roberto sorrindo.
- Se não fôssemos crianças, acho que eu diria que estava gostando de você. - Disse ela tímida. O menino sorriu e preparava-se para beijá-la quando ouviu passos. Era o pai de Helísa querendo buscá-la. Aquele foi o último encontro dos dois naquele ano.
O destino reservava muita coisa para aquelas duas crianças. Heloísa não voltou no ano seguinte, nem no outro, nem no outro. Seu pai havia mudado de cidade, para bem longe. Todas as férias de verão Heloísa chorava e ficava muito triste, pois nunca pudera voltar para reencontrar Roberto. No interior, Roberto também ficava muito triste com a situação. O tempo, apenas cicatrizou o ferimento da separação, mas a dor, nunca terminou.
10 anos depois... Férias de verão...
Heloísa uma linda e bela mulher de 21 anos. Era alta, loira de cabelos cacheados e belíssimos olhos azuis. Acabara de descer de seu carro que a levou a pequena cidade do interior onde ela tivera alguns anos antes. Ao chegar na pequena cidade ela  foi à casinha onde passava as férias no passado. Seu pai havia vendido antes de mudar de cidade. A casa estava em ruínas, o novo dono havia abandonado e o fato dela ser feita de madeira ajudou no processo de destruição. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto branco. Ao olhar para a montanha, conseguia ver a casa de Roberto ao qual ela nunca foi. Limpou a lágrima do rosto e deu um pequeno sorriso.
Levou cerca de uma hora para que ela chegasse lá. O trajeto era dificil, era longe, alto e com vários obstáculos pelo caminho. Diferentemente da sua casinha, a casa de Roberto estava intacta, parecia até que havia passado por uma pequena reforma, visto que se podia sentir um cheiro forte de tinta.
Heloísa sabia que ele já poderia muito bem ter encontrado uma namorada ou até mesmo estar casado, mas isso não a impediu de ir até lá. Heloísa bateu na porta, umas duas vezes até ser surpreendida pela figura de um homem alto e meio de idade.
- Olá. Gostaria de saber se essa é a casa de um rapaz chamado Roberto.
O homem olhou meio desconfiado e respondeu.
- Sim. Mas ele não se encontra mais aqui, moça.
- Mas, o que houve?
- Já faz uns cinco anos que ele se alistou para o exército.
Heloísa colocou as mãos na boca. - Meu Deus!
- Sim, minha jovem. A última notícia que tive dele foi há dois anos, disse que estava bem mas, não revelou onde.
Heloísa saiu ainda mais triste da cidade. No volante de seu automóvel não podia conter as lágrimas. Mesmo com tanto tempo, eram tão pequenos, mas não podia deixar de imaginar em seu corpo fuzilado em um campo de batalha. Voltou para sua cidade e decidiu tentar esquecer os fatos.
11 anos depois... Férias de verão...
A atual cidade de Heloísa passava por uma grave guerra civil motivada por descontentamentos com o atual governo. Muitos soldados estavam se enfrentando, e muitos deles acabavam gravemente feridos. Certo dia, um jovem soldado deu entrada em um hospital da cidade com uma fratura enorme na cabeça, quase desenganado pelos demais médicos, uma doutora em especial lhe antendera.
- Meu Deus! Acho que desta vez não vou aguentar.
- Não fale isso. Tenho certeza que conseguiremos recuperar sua cabeça homem. Disse a linda doutora de olhos azuis tentando alegrá-lo.
- Me deixe morrer logo! Falava o soldado.
- Calma, deixe eu cuidar dos seus ferimentos. E- ssa frase soou como um flashback em sua memória. Pois ele já havia dito uma certa vez.
- Heloíza? - Disse o soldado esquecendo a dor.
- Como sabe meu nome? - Indagou a doutora.
­  "Se não fôssemos crianças, acho que eu diria que estava gostando de você.” - Disse o homem em seu leito. A doutora Heloíza não pode conter suas lágrimas. O homem que conhecera tantos anos antes estava em sua frente a beira da morte.
...
A cirurgia foi um sucesso. O soldado se recuperou, mas não pode mais servir ao exército por estar frágil. Heloísa tivera alguns namorados neste decorrer de tempo, mas nunca se casou. Roberto, esse não teve muito tempo para mulheres durante os serviços ao exército. De maneiras bem diferentes cada um esperou pelo outro. Heloísa cuidou de Roberto até sua recuperação, depois se casaam e atualmente moram juntos. E a cada novo verão, repentem com doce e eterna ternura: “Se não fôssemos crianças, acho que eu diria que estava gostando de você.”

 
 
Conto publicado no livro "Contos de Verão" - Março de 2016