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Teresa Cristina Cerqueira de Sousa
Piracuruca / PI

 

Encontro

Os dois primeiros dias no rancho estavam de calmaria e Joana usou o tempo mais para descansar. Os pássaros arriavam nas árvores por depois do meio-dia. Então, se notava que algumas espécies gostavam das primeiras folhas que nasciam nos galhos agora com o inicio das chuvas; antes, eram árvores ressequidas pela estiagem longa e cansativa. Ela não teve intenção de recordar como eram os nomes das aves ou das plantas da caatinga. Havia em Joana uma expressão de deleite por estar ali deitada numa rede à varanda com um sorriso interno de prazer pela natureza.
Planejou sua estadia com a exatidão dos quinze dias que se colocou para as férias de começo do ano. Encarou o desafio de ter de ajudar a cozinhar num fogão a carvão vegetal de modo atraente, não por ser esta a única forma de se cozer na casa de seu irmão, mas por uma saudosa lembrança da casa deles da infância com a imagem da mãe e os doces de caju e goiaba ou com os deliciosos cozidos de galinha. Neste ínterim, apanhou com ânimo a vontade de tomar um cafezinho fresco e caminhou a passos largos para a cozinha.
Mas não fosse o gato miar alto quando passou pela sala, talvez se demorasse a notar que a casa tinha visitas, tão eram os pensamentos infantis que lhe povoavam a cabeça.
— Joana! Você se lembra de meu amigo Ricardo? — Ouviu o irmão falar.
Os pensamentos caíram-lhe no esquecimento e respondeu logo com o coração (não entendeu o porquê) aos pulos.
— Ricardo Valente, não era assim que os meninos te chamavam? — Lançou em seguida um olhar interrogativo para o irmão — Quando Ricardo voltou de São Paulo?
— Estou vendo que você se lembra dele mesmo. Hum, esse apelido era a sensação na escola!
— Bom é falar de nosso tempo na infância! A gente percebe logo que éramos queridos e que brincávamos bastante de forma saudável. Todavia, isso de apelido... eu tenho ainda alguns arranhões na alma por brigar na hora do recreio...
Ricardo falava com os olhos presos nos dela, com calor e entusiasmo.
Joana notou que havia nele alguns cabelos grisalhos a darem gosto de se colocar os dedos e acariciar a nuca por onde estavam. Por que ficar com essas ideais se eles nunca se tocaram?... Pensa cada coisa uma mulher!
E foi se sentando esquecida do café. Cruzou as pernas de modo a deixar uma parte visível, que se notava a pele morena bem torneada devido aos exercícios físicos que fazia. Por gosto malhava todo dia, fazendo-se supor que era mais jovem que seus trinta anos.
— Sabes, Joana, hoje à noite eu irei jantar num restaurante aqui perto...
— No Canto do Lago? Eles compram do meu peixe... Esses de que te falei que crio em gaiolas. Realmente é uma boa opção para o jantar.
— Sim, mas desse jeito não concluo o que quero dizer a sua irmã, Pedro!
— Oh! Por Deus, desculpe-me, Ricardo!
Os dois se olharam.
Pedro, sentado num tamborete de madeira, calou-se, como se na casa apenas houvesse Joana e Ricardo, como se na fala que se esperava deste houvesse um fato interessante para todos. Não era mesmo sua irmã apaixonada por Ricardo na infância? Não queria ela se esquecer do casamento fracassado? Por que não pensar que as oportunidades se colocam em visitas, de ganhar delas sorrisos e afetos – Ao mesmo tempo em que se pensa que os que amamos sempre precisam de um jeitinho de ficar mais perto...
O convite para o jantar pareceu um encontro de namorados. Nada merecia outro pensamento: ou eles eram tão íntimos na infância e não se soube?
A esposa de Pedro chegou com um cafezinho quente e uns pedaços de bolos caseiros. Quem podia recusar algo servido com carinho e simplicidade? Quem tinha pressa de ganhar o sol e ir cuidar dos afazeres? ... Era ele – Pedro! Mas não podia se esquivar das boas maneiras...
— Ana! Este é meu amigo de infância... Ricardo! Amanhã ele almoça uma galinha caipira conosco. Hoje ele vai levar Joana para jantar.
Pronto. Como sempre, falava demais. Mas todos já o conheciam... Mas era também uma pessoa simples e sossegada. E acentuou que no interior a vida era tranquila no assobio que se ouviu enquanto ele coloca no ombro o saco de ração dos peixes e descia escada abaixo em direção ao rio.

 

 
 
Conto publicado no livro "Contos de Verão" - Março de 2016