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Rannyele Passos Ribeiro
São Luís / MA

 

Triste fim

 

É noite, pássaros cantam o tempo inteiro e o vento sopra vorazmente.
Uma noite quente em um lugar que é sempre verão. É lua nova e uma noite estrelada toma conta do céu.  A vasta imensidão do universo é expressa na escuridão, evidenciando o leite derramado da Via Láctea.
Quando é lua cheia, tudo é iluminado. A claridade que suaviza a escuridão da noite e ilumina pássaros chocando em seus ninhos, dormindo, cantando, chilreando... vivendo suas vidas.
De dia, a água azul límpida em contraste com a areia reluzentemente branca enfeita o cenário. Céu azul, com poucas nuvens e um sol radiante. Sol que, quando nasce ou quando se põe, revela-se em um fenômeno indescritivelmente belo. As cores do céu se misturam de amarelo a azul escuro, passando pelos tons alaranjados e arroxeados.
Ao redor de tudo isso, o mar revolto, as ondas fortes e as gotículas de água do mar por elas expurgadas. Água salgada e morna, já que sempre é verão. Água doce? Nenhuma.
Nesse lugar, a vida é cheia de mistérios, principalmente aqueles escondidos debaixo d’água. Seja nas piscinas que ali se formam ao redor dos corais ou mesmo no mar a fora. Peixes, tartarugas, algas, esponjas, anelídeos, tubarões uma aquarela de vida marinha. Fora do mar, só os pássaros, insetos na areia, vegetação marinha e a canção do vento.
A canção que chora mortes daqueles que ali apareceram. Em um lugar completamente inapto à vida humana. Canções do vento que assombram como que expulsando aqueles que não deveriam ali estar. Definitivamente, não é um lugar para a presença humana. Pois que se conserve assim. Mas, eventualmente na praia, a descansar e receber banhos com as ondas do mar.... uma escova de dentes. Ah se ela falasse!
***
Ele estava no navio, era noite e tinha acabado de jantar. Foi para sua suíte buscar escovou os dentes, preparando-se para dormir. De repente um barulho o assusta e o balanço do navio começou a balançar mais forte. Rapidamente subiu as escadas, dirigiu-se para a popa quando percebeu que o navio acabara de tombar em algo. Mas o que? Não era possível ver. Rapidamente todos os marujos dirigiram-se para o bote salva-vidas, mas não cabiam todos... Uma briga para se salvar... Tiros são ouvidos. Menos um, menos dois, menos três... Mas ele consegue entrar no bote. As amarras são soltas. Na tentativa desesperada de se salvar, alguns se jogam no mar.
Os que conseguiram subir no bote remavam com força em direção ao Norte... Quando de repente o bote bate em uma rocha. Todos caem no mar. As ondas estão violentas, alguns foram arremessados a rochas submersas. Nesse momento, alguns marujos se jogam no mar do navio quando... Bum! Uma explosão ilumina o naufrágio. Partes do motor do navio são arremessadas. Pesadas toras de madeira caem na água. Na segunda explosão, o navio se parte ao meio.
Ele ainda estava lúcido agarrado numa tora de madeira que havia restado no bote e se deixou levar pela correnteza enquanto assistia toda a tragédia. A angústia de não ter podido salvar mais alguém o atormentava. Gritava por socorro e pelo nome dos amigos que estavam com ele, mas nada. Somente o vento soprando e a correnteza levando ele para não se sabe onde, a deriva... sem nada. Nenhum marujo sobreviveu além dele.
Como que uma faísca de esperança, ele encontra terra a vista. Era uma ilha.
A ilha era pequena, sem presença humana, rodeada de corais. Passaram-se dias, o marujo lá conseguiu sobreviver comendo peixes, ovos das aves que viviam no local. Não havia nada que pudesse usar para fazer uma jangada na tentativa de sair de lá.
Todos os dias ele andava aos arredores, buscando restos do naufrágio, consegue pegar várias madeiras e tenta fazer uma jangada, mas não tem sucesso. Encontra alguns poucos mantimentos, mas também os corpos de seus amigos. Explorou todo o local, encontrou piscinas, mergulhou, pescou para se alimentar. O lugar era lindo, um paraíso... mas sem mínimas condições de sobrevivência. Esperava só o dia de sua morte ou que um barco aparecesse para salvá-lo.
Eis que um dia acontece o esperado. Os mantimentos acabam, a fraqueza o acomete, a sede e a fome são insuportáveis. O fim não demora a chegar. Mas para os restos do naufrágio... esses vão ficar por muito tempo. A maré vai e vem trazendo e levando os restos do naufrágio. Estes são os únicos que podem contar a história. Sim, eles falam.

 

 
 
Conto publicado no livro "Contos de Verão" - Março de 2016