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Wagner Dias de Souza
Rio de Janeiro / RJ

 

Arlindo e seu carro

 

              Arlindo é vidrado em direção automotiva desde criança. Quando sua mãe o levava ao parque de diversões, o seu brinquedo favorito eram os carrinhos elétricos da autopista. Gostava também de passear de pedalinho. O motivo nem precisa dizer.
            - Quando crescer, eu vou comprar um carro para passear com a minha mãe – assim pensava o pequenino sonhador.
            Sua mãe não viveu o suficiente para ver o menino crescer. No decorrer de sua vida, diversos problemas impediram Arlindo de realizar o acalentado sonho. Nos momentos mais agudos de sua trajetória, chegou acreditar que jamais guiaria um carro de verdade.
O tempo passou e Arlindo muitos problemas superou. O sonho do carro voltou. Então, ele estabeleceu como meta principal a compra de um automóvel. Esforçado, começou economizar. Quando percebeu já possuir uma quantia suficiente para dar entrada na compra do tão sonhado carro, ele se lembrou de um detalhe: não sabia dirigir! Questão essa logo solucionada. Procurou uma autoescola para habilitar-se. A fase teórica foi ótima, beirando a perfeição. A coisa começou a ficar complicada quando começaram as aulas práticas. A vontade de aprender era tanta, que ele extrapolava na ansiedade. Havia treinos em que errava tudo. Temia não conseguir realizar a prova de baliza, um dos quesitos para a obtenção da habilitação. Daí a tensão durante os treinamentos práticos. E isso o deixava bastante triste. Mas não desanimou, e conseguiu melhorar o seu desempenho.
Chega o dia do exame prático. Arlindo estava tão nervoso, que sequer conseguiu completar a prova de baliza.
           - Seu tempo se esgotou. Infelizmente, o senhor está reprovado. – disse o inspetor.  Logo na modalidade que ele tanto se esmerou em aprender. 
Vinte dias depois, veio a segunda chance. Na temida prova de baliza, ele se saiu muito bem. Tudo indicava que a conquista da habilitação seria uma questão de minutos. Diria uma questão de metros, tendo em vista que o circuito da prova era muito pequeno e fácil. Mas não foi.  O vilão desta vez foi o nervosismo ao fazer uma simples conversão à direita. Preocupado com os pedestres que caminhavam a sua frente, no meio da rua (e nem se preocuparam em dar passagem para o carro), ele se desconcentrou e, quando percebeu que deveria fazer a curva, já estava muito encima. Para piorar a situação, errou a troca de uma marcha.
- Infelizmente você está reprovado. Deixe-me assumir o seu lugar e conduzir o veículo até o final do percurso – proferiu secamente o inspetor da prova.
            Arlindo ficou desesperado. Faltava menos de um mês para o término do seu processo de 1ª habilitação. Significa dizer que: se ele não conseguisse agendar outro exame nesse curto espaço de tempo, teria que abrir outro processo e recomeçar do zero.
 Quando tudo parecia estar perdido, eis que lhe surge um amigo e o anima, dizendo:
            - Rapaz, entenda uma coisa: tudo o que você desejar e for do seu merecimento, irá conquistar. O universo sempre conspira a favor dos justos. Portanto, meu caro, tenha fé, e tudo o que você desejar, conseguirá.
           Mas lembre-se, amigo: desde que seja por meios lícitos.
- Obrigado, amigo! Mas, como é que você sabia dessa minha angústia?
- Saibas que nunca estás sozinho.
 Depois de dizer isso, o sujeito se afasta enigmaticamente.
 Arlindo conseguiu agendar um novo exame faltando apenas dois dias para o término do tal processo. Desta vez, só um resultado interessava: aprovação. 
Porém havia um detalhe: este último exame foi agendado para um circuito mais longo e difícil, onde os índices de reprovação eram altos. Mas ele foi tão confiante que, mesmo nervoso, conseguiu a aprovação. Deu tudo certo nesse dia.
            Agora, era só comprar o bendito carro. Quando finalmente Arlindo planejava a concretização do seu grande sonho, surge um imprevisto: sua irmã precisou, urgentemente, de ajuda financeira. E ele a ajuda com suas economias.
            Dezoito meses de novas economias depois, finalmente consegue comprar o carro dos seus sonhos. Já com a chave do carro nas mãos, surge outro problema: Por ficar quase dois anos sem guiar, Arlindo perdeu os reflexos da direção. Voltou a insegurança. E com ela a ansiedade. Até conseguia conduzir o veículo, porém deixava afogar o motor quando parava diante do semáforo. Ficava amargurado e triste. Chegou até cogitar vender o carro comprado com tanto sacrifício.
Foi então que teve a ideia de se reciclar. Descobriu uma autoescola para habilitados e lá se matriculou. Foram quatro meses de treinamento, aprendendo realmente a conduzir um automóvel. 
A paz e a segurança voltaram e hoje Arlindo guia, com segurança, o seu precioso bem, seja nas estradas ou pela ensolarada orla de sua maravilhosa cidade.

 

 
 
Conto publicado no livro "Contos de Verão" - Março de 2016