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Maria Rita de Miranda
São Sebastião do Paraíso / MG

 

Protesto solitário

 

          Não podemos seguir mais à risca o antigo ditado: “O que faz mal é o que sai da boca, não o que nela entra”. Infelizmente, muita coisa que entra, anda fazendo mal.
          Há alguns dias, assistindo na tevê um programa de debates, deparei-me com uma nutricionista falando, obviamente, sobre alimentação.
          Chamou-me a atenção, mais uma vez, como estamos à mercê das indústrias alimentícias que, pelo que entendi, na maior parte das vezes, não cumpre as regras da boa alimentação.
           A começar pelo rótulo dos produtos que, pasmem, algumas vezes possuem informações camufladas. Obrigatoriamente teremos que fazer também um curso de nutrição, para decifrá-lo. Nem todo leigo sabe, nem tem por obrigação sabê-lo, que conservantes, acidulantes, realçadores de sabor, aromatizantes, corantes e tantos outros aditivos, escritos com letras mínimas, podem fazer mal à saúde. Quando compramos um produto alimentício, pagamos para adquirir alguma coisa que vá nos nutrir e não que, aos poucos, nos adoeça.
          Tem ainda o valor nutricional, geralmente dentro de um quadradinho, que nos informa a quantidade de outros componentes como sódio, açúcar, gorduras saturadas, trans, etc. Muitas vezes estes ingredientes estão em quantidades impróprias para serem consumidos. Então ainda temos que saber qual o total de gramas ou miligramas de sal, açúcar ou gordura que podemos ingerir. Tudo isso vem com a porcentagem dos valores baseados numa dieta de 2000 ou 2500 Kl dia. Será que todos sabem o que é caloria ou quantas ingerimos por dia?
          Tudo muito complexo, tudo muito difícil de entender. Talvez seja isto mesmo a intenção do fabricante: complicar e vender seu produto com um sabor agradável, apesar do baixo valor nutritivo. Se for gostoso, sai das prateleiras.
          Disse a nutricionista:
          -Vá ao mercado com tempo, leia o rótulo, descarte os produtos com muito sal, açúcar ou com gordura trans. Na verdade, evite produtos industrializados. Consuma de preferência os produtos in natura e mais de preferência ainda, os orgânicos, senão você estará ingerindo o veneno dos inseticidas.
          Aqui entra o meu protesto: se faz mal à saúde, por que são colocados à venda tais produtos? Por que os órgãos que fiscalizam as indústrias alimentícias não as obrigam a fabricar produtos de qualidade que não ameacem a saúde? Por que os alimentos orgânicos são recomendados para todos, se nem todos podem comprá-los, pelo preço que é tão alto?
          Vendo a explanação da nutricionista, pensei ironicamente: se tantos alimentos fazem mal, vamos viver só de água?
          E não é que ela me deu a resposta? Disse:
          -Nem na água podemos confiar, pois nossa água possui substâncias duvidosas que podem até causar câncer.
          Aí, de fato, me decepcionei. O jeito é seguir obrigatoriamente outra linha que diz: coma de tudo e em pouca quantidade sem muita pesquisa. Assim você terá, na ignorância, alguma chance de conservar sua saúde.
          Em tempo: protesto ainda contra os preços marcados nos produtos, quando as casas dos centavos são 99, 36, 41, etc. e a aproximação é feita sempre para cima desfavorecendo o consumidor, pois alegam não ter troco. Se não têm, por que colocar estes preços? Mais desagradável ainda é quando lhe dão uma bala de troco.
          Apelo novamente para uma maior fiscalização dos órgãos competentes. Por que somente o consumidor tem que fiscalizar? Espero pelo dia que teremos a certeza de que os alimentos que compramos são bons e confiáveis. Utopia?

 

 
 
Conto publicado no "Livro de Ouro do Conto Brasileiro" - Junho de 2016