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José Vicente Neto
Pratápolis / MG

 

 

A pesca milagrosa

 

       Foi no catecismo que Pablo conhecera alguns dos milagres que Jesus fez enquanto viveu na terra.
         As histórias de Jesus no mar, sempre lhe chamara mais atenção. Gostava de ouvir a catequista contar que Jesus andou sobre as águas, que Ele dormira na barca durante uma tempestade e especialmente a história da pesca milagrosa o encantava.
         A pesca milagrosa encantava Pablo, porque ele mesmo presenciara tal fenômeno acontecer uma vez.
         Certa vez, estavam todos no rancho de seu pai. De tardezinha, como de costume, foram armar as redes de pesca. Pablo, embora muito jovem, era indispensável nesta tarefa, ele já sabia remar a canoa para, seu pai e os amigos dele, amarrarem as redes, que eram colocadas próximas às margens.
         Terminada a tarefa, voltavam para o rancho quando já estava escurecendo. Depois jantavam. As crianças e as mulheres iam dormir e os homens ficam um pouco mais, jogando truco e tomando uma pinguinha.
         No outro dia levantavam cedo e quando o sol apontava, até as crianças já estavam de pé. Era hora de recolher as redes. Então, Pablo era o primeiro que corria para a canoa, pegava o remo e ficava esperando os outros. Seu pai era o último a subir, porque era ele quem desamarrava a canoa da estaca. Um amigo de seu pai o ajudava a remar até a primeira rede, depois a pilotagem da canoa era tarefa de Pablo até a última rede.
         Primeira rede recolhida. Nenhum peixe.
         Segunda rede. Também nenhum peixe, e ainda, estava com rasgos nas malhas. – Deve ter sido uma lontra. Disse um dos amigos.
         Terceira rede. Estava desamarrada e rolou alguns metros rio adentro. Tiveram que pegar o gancho para conseguirem recuperá-la. Também nenhum peixe.
         Quarta rede. Esta estava toda enrolada na moita de capituva e nenhum peixe também.
         Os amigos se entreolharam sem saber o que estava acontecendo naquele dia. Isso nunca ocorrera dessa forma. Todas as redes? Uma ou outra já acontecera, mas todas?
         Partiram então, para a quinta rede. Cadê a quinta rede? Não está amarrada nem na margem, nem na estaca.
         Então pegaram os ganchos e começaram a procurar. Primeiro, entre as capituvas, depois seguindo um trecho da margem. Pablo remava em círculos e seu pai e o Senhor João, arrastavam os ganchos. E nada de encontrar a rede perdida. Todos na canoa já estavam cansados e tristes. Aquele não estava sendo um bom dia para a pesca.
         Subitamente, Pablo lembra-se da história da pesca milagrosa, quando os pescadores estavam cansados e desanimados e que Jesus ordenou a eles que jogassem a rede do outro lado. Então, num impulso, Pablo rema a canoa uns cinquenta metros rio adentro. Quando seu pai percebe a distância, adverte o garoto para parar e voltar à margem. Pablo pede ao pai que lance os ganchos para ver se encontra a rede. Seu pai diz que é impossível a rede estar ali. Pablo insiste tanto que seu pai e o Senhor João, resolvem lançar os ganchos e procurar. Afinal já estavam ali mesmo e o garoto nunca insistira tanto num pedido.
         De repente o pai diz para os outros que tem algo preso no gancho dele. O senhor João também sente que seu gancho está preso em alguma coisa. Eles puxam, mas nada vem à tona, está muito pesado. É preciso que os três amigos juntem as forças. Eles puxam e conseguem perceber que estão trazendo algo grande e pesado. A canoa balança muito. Pablo precisa se agarrar ao banco para não cair dela. Já estão conseguindo. Dá para se ver que é algo cilíndrico. O pai diz para os amigos que é um covo1.
         – Vamos. Puxem. Não podemos perder ele de novo.
         – Mais força.
         – Pai, está entrando água na canoa.
         – Vocês dois fiquem do outro lado da canoa para ela não virar.
         – Agora. Vamos no 3.
         – 1... 2... 3.
         E ali, diante dos olhos de Pablo, a pesca milagrosa acontecia. Aquele covo tirado do rio tinha tanto peixe, mas tanto peixe, que ele nunca tinha visto coisa parecida em todas as pescadas que já participara com o pai.
         Recuperados do esforço e da emoção remaram para o rancho.
         Abriram o covo, separaram e limparam os peixes. E descansaram a tarde toda.
         Ao entardecer, sentaram do lado de fora do rancho e foram conversar sobre a pescaria daquele dia.
         O pai conta para todos, e principalmente, para Pablo, que aquela pesca milagrosa foi resultado de um covo encontrado que estava perdido há mais de dois meses, por causa de um grande temporal, e que hoje, eles apenas o recuperaram.
         Pablo, meio decepcionado com uma explicação tão simples, lembra ao seu pai que o covo havia sido colocado perto da terceira margem e que eles o encontraram muito perto do rancho e que nunca acontecera de recolherem as redes vazias.
         Então, senhor João, sempre muito sábio, encerrou o debate argumentando que todos tinham seu ponto vista, e que, Pablo estava certo, que hoje havia aconteido uma verdadeira pesca milagrosa.

 

 
 
Conto publicado no "Livro de Ouro do Conto Brasileiro" - Junho de 2016