Primeira vez neste site? Então
[clique aqui]
para conhecer um pouco da CBJE
Antologias: atendimento@camarabrasileira.com
Produção de livros: cbje@globo.com
Contato por telefone
Antologias:
(21) 3393 2163
Produção de livros:
(21) 3547 2163
(21) 3186 7547

Neri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR

 

O paraíso ainda existe?

 

 

Uma sombra amiga, refrescante, gostosa, convidando para uma meditação. Foi em um cair de tarde de um verão escaldante. O velho pé de cinamomo, com seus primeiros galhos estendidos na horizontal, acolhendo os pássaros cansados de voarem em busca de alimento, serviram de abrigo. As aves acostumadas a fazerem uma pousada, em seus ramos, um ninho aconchegante para passarem à noite.
Ali bem próximo, um bando de andorinhas, encontra guarida nas  ervateiras, enquanto ao lado, uns pinheiros servem de entreposto a algumas curucacas. Os pinheiros, as ervas-mate, o coqueiro algumas das árvores sobreviventes da devassa feita pelos donos das serrarias, assim como os  granjeiros, ou grandes criadores de gado.
Sentados na grama, envoltos em toda esta magia em sintonia com a hora do Sol, enquanto ele, devagarinho se despede para dar lugar às trevas, não é mais dia e ainda não chegou a noite. Um espetáculo bonito.
O vovô Antônio Pedro, tenta explicar aos meninos o que ele sente por esse lugar. Deixando passar ao mesmo tempo as suas crenças, o conhecimento adquirido ao longo da vida. Esses lhe permitiram acumular, com sapiência incorporando nos seus atos muitas verdades.
- Meus queridos netos, imaginem o começo da Criação, deve ter sido um lugar mais ou menos assim, como esse que nos abriga!  Uma paz! Uma paisagem linda! A harmonia da vida!
-          Mas vovô?! Foi aqui o Paraíso???
-          Não, João Antônio. Mas podia ter sido. É só imaginação minha. O lugar com certeza era mais ou menos assim. Aqui nós temos a água pura, a fonte nascendo das rochas, é cristalina e fresquinha. Podemos até sentir que a vida só podia ter vindo da água. O ar, é leve, sinta Joãozinho, como faz bem para os nossos pulmões... e, é até perfumado. Leve como um sopro. O sopro da Vida. O Beijo Divino acariciando a Criação. Como é bom viver aqui!
              Nós ainda temos frutas a qualquer hora, é só buscar, na própria árvore. Maduras, cheirosas, colhidas no momento em que vamos saboreá-las. Nós sabemos, elas não trazem junto com o sabor, agrotóxicos que prejudicam a saúde. São saudáveis, são adocicadas.
Quando planejamos assar um peixe para o almoço, é só pegar a vara, o anzol e buscá-lo no açude.  Cavoucar um pouquinho, achar a minhoca. Ela, vai servir de isca para pescarmos o nosso almoço. O açude, além de várias espécies faz o equilíbrio biológico. As rãs, os sapos, os pequenos animais, os pássaros, as aves pernaltas estão aí nosso dispor. Um equilíbrio biológico perfeito.
-   Parece que o vô, está na sala de aula. - Disse o José.
-  Meu filho, o Paraíso que Deus criou para homem era, sem dúvida, um lugar igualzinho a este aqui.
Os meninos já foram se inserido nos devaneios do avô, transportados para outra época, pensaram em tudo o que ouviram. Cochicharam entre eles.  Matutaram um pouco, então, com sabedoria, o Toninho respondeu:
         - Sabe vô, para ser bom mesmo, a gente tinha que ter aqui em casa, no sítio, também as coisas boas lá da cidade. Todas aquelas máquinas que fazem o serviço pela gente. A TV precisava ser bem sintonizada, com imagem bonita, ter muitos canais a disposição. As estradas estarem pavimentadas, se não fossem asfaltadas, mas com pedras regulares, um calçamento bem feito, para absorverem a água, para podermos ir à cidade, também quando chove bastante.
O outro disse:
- É preciso ter celular, ter um bom carro.
A visão deles é também a de um paraíso, mas o Paraíso dos dias atuais. A combinação perfeita entre as maravilhas do campo: mesa farta, tranquilidade no viver, nada de poluição. Sem muita pressa, viver e desfrutar o dia a dia.
Não deixando também de ser excelente, mas aliada com a cidade, com toda a tecnologia de hoje. O transporte rápido. A comunicação eficiente. O computador no meio rural sem segredo algum. O celular com sinal.
 O casamento perfeito entre o paraíso de então, o que pode ser o de  hoje, um sonho do bem-viver. - Pensou o avô. - Passou a mão na careca, pigarreou.
- sabe,  vocês têm razão, seria o sonho sonhado. O que eu trago em mim são os resquícios de um paraíso perdido. O que está latente é o desejo de ser feliz, de viver com fartura, “Para que todos tenham Vida e Vida em abundância”. Jo 10, 10
-     Sabe vovô, a gente leu lá na escola em umas revistas que mostram umas reportagens interessantes. E, a gente pensou: A maioria dos donos da terra, moram nas cidades, são os que chamamos de latifundiários, não sabem lidar com a terra, nem sentem prazer com o cheiro de terra molhada. Mas são os proprietários. Possuem um papel, dado não sei por quem, e em que tempo, dando a eles o direito de propriedade. 
Os que aqui moram, mesmo sendo os pequenos proprietários, sabem como trabalhar com a enxada, tem o gosto pela lida do campo.
Apreendemos também, lá na escola, que o Brasil é um país continente,  os que aqui nascem possuem direitos iguais. Nascer no Brasil é ser cidadão, deste país, “abençoado por Deus e bonito por natureza”!
A terra é um bem universal! O homem é um ser sagrado, pois tem origem Divina. A Pátria pertence a todos os que nela nascem, estudam, trabalham. E são cidadãos de bem.
Seu Pedro, esfregou as mãos, os olhos, com voz embargada pela emoção, respondeu. . .
  - É, esse mundão de terra brasileira está sendo devastada, queimada em alguns lugares . Um país, que libera a semente, na hora da colheita, não tem onde armazenar a safra. Produzindo muito. Alguns brasileiros passando fome, não têm onde guardar, não sabem fazer ainda distribuição justa de alimento!
 O que está acontecendo com o Paraíso deixado para todos os homens!? Será que estamos sabendo escolher quem nos represente? Precisamos muito de vontade política! Até as crianças como vocês, já estão analisando, almejando em um tempo melhor!
- Vejam - continuou o velho avô. - Neste nosso Paraíso, tanto no do meu imaginário como também no de vocês, um paraíso natural, mas com toda a tecnologia, uma não substitui a outra, nesta terra abençoada!  Tem que ser um lugar tranquilo, com sombra, com pássaros seja no Campo ou na Cidade.
A Árvore da Vida, de qualquer espécie, muitas vezes já destruída, serrada por alguns, usada como barganha ou apodrecendo como costaneira, como serragem, sem utilidade alguma.
Porém nós não podemos esquecer: nós somos capazes de granjear mais algumas. Existem as sementes, a terra é fértil... É só plantar! É só cultivar!
O livre arbítrio dado ao ser humano, como dádiva, precisa se manifestar.
Será que o Paraíso ainda pode existir?                                                            
          

 
 
Conto publicado no "Livro de Ouro do Conto Brasileiro" - Junho de 2016