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André Luiz de Oliveira Pinheiro
Rio de Janeiro / RJ

 

Amada Terra

 

Pelo dia da Terra... Pela Terra e o seu dia, por todos os seus dias. Dia após dia, desde sua criação há mais de quatro e meio bilhões de anos... Opa! Mas, eu falava em dias e agora me refiro a anos? Bem, isso é fácil. Faço umas contas, multiplico, vão uns, somo os dias dos anos bissextos... Seria um prazer colocar este número, em dias, por extenso aqui, mas não seria tão surpreendente e fascinante quanto à própria história deste globo e, menos ainda, quando se fala da sua formação em si.
A mais tempo do que imaginamos, de uma explosão se originou tudo. Um tudo que poderíamos dizer, nascido do nada... Mas, creio que o nada não existe. E os cientistas concordam comigo (que petulância rsrsrsrs). Então, duma singularidade tudo foi criado. Muito tempo depois do inimaginável surgiu, lá num cantinho, do que hoje chamamos de Via-Láctea, uma estrela chamada: Sol.
Após seu aquecimento e com os escombros flutuantes em torno dessa estrela de quinta grandeza (já não sei se ela ocupa ainda este posto) começaram a surgir corpúsculos circungirando-a... Entre eles lá estávamos nós... Ou melhor, a nossa futura casa, nosso lar, nosso refúgio, a embarcação que nos conduz até hoje nesta jornada pelo mar do infinito, aos oceanos da eternidade.
É tão estonteante aqui o tempo-espaço de que falamos, que ao percorrê-lo nos perderíamos, em algum dos anéis de Saturno ou na grandeza de Júpiter ou nos chocaríamos com algum asteroide no cinturão que existe em nosso sistema... É! O famoso sistema solar, que consiste em uma grandiosa estrela mantendo em órbita a seu redor seus filhos diretos e diletos de acordo com a distância do seu olhar... Mercúrio, Vênus, nós a Terra, Marte, o tal cinturão, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e... Plutão ainda não decidido, se fica com seu posto ou torna-se um planeta anão...
Bem, vamos nos transportar definitivamente para solo firme, aqui em nosso planeta azul. Azul tão lindamente descrito e resumido na fala de Yuri Gagarin: "A Terra é azul!" Que vista do espaço fica com esse aspecto devido a sua superfície ser, em grande maioria, formada por água e também por conta da camada de ozônio que nos envolve e protege dos raios solares...

Ó terra mãe, ó mãe que embala a vida
Nos braços seus, quais águas do oceano
A nos guardar em nosso próprio engano
Que à consciência faz a dor urdida...

Na jornada, de engano em engano, com erros após erros, com acertos também, é claro, chegamos até aqui. Sobrevivendo às intempéries, às pestes, às revoluções, às guerras, às feras e a nós mesmos... Sim, a nós mesmos, pela seguinte razão: somos na inteligência os primeiros. Na cadeia alimentar nem tanto, pois, seríamos devorados até por formigas caso ficássemos no caminho delas... Mas, devido à inteligência transformamos este quadro, e tudo que pode estar acima, em um segundo está embaixo de nossos pés, esmagado pela nossa inteligência petulante, orgulhosa... Assim nos tornamos um ser "gregário solitário", em nosso "ego-centro" na depressão de nosso umbigo. Criando entre nós uma gama de inimigos, por nos locarmos em um pódio ordinário...
E entre as nossas vítimas está o nosso lar, a nave mãe de nossa celeste jornada. Já está embaixo de nossos pés e sem muito esforço a pisoteamos todos os dias. Ela não se importa. É nosso pão, nossa água que mata a sede, nosso divertimento nas férias, nossas jazidas de ouro, ferro, bauxita. Nossa sombra bendita, refrescante na rede. Nosso emprego ou trabalho na indústria e no campo. A floresta que ao ar dá o oxigênio ou explorada se entrega as loucuras do Homem "gênio"...

Seus verdes campos, seus azuis nos rios
Nos tons do encanto flores sem iguais
E as cores submersas nos corais...?
Belezas tristes, de amanhãs sombrios...

Mas, será tão trágico assim o nosso mundo...? Eu sei da viuvez do futuro, quando vejo vários funerais da esperança... Ao cortejo, acompanhando um grande número de corações sem confiança, em lamentos estáticos e profundos. E a cada dia se coloca mais um irmão na
 lista dos arriscados a extinção. E mais um manancial secando ou poluído pela ambição. Os rios caudalosos em filetes d'água se entristecendo, nas prerrogativas de grupos entretecendo quadros dantescos, a fim de justificar os desvios dos rios a salvar, da morte pela sede, o que a sede da ganância já matou.
No entanto, eu creio nos anônimos, naqueles nomes que não se professam por os desconhecerem, do litoral ao interior eles são sinônimos dos pujantes peitos varonis, verdadeiros esteios de nosso país, que de sol a sol sob o céu azul tentam transformar os rios da incerteza a caminho da foz no mar, preservando os seus leitos com a mata ciliar, aumentando suas margens até o leito de (A)mar... São esses que enfrentam os ditadores, procurando esclarecer aqueles submissos, que estão à mercê da crueldade... São educadores, cientistas, construtores, donos e donas de casas ou simples plantadores... Que em seus mudos quase solitários, mudam pouco a pouco os cenários com suas mentes, que são auroras vindouras, plantando as "sementes crioulas" renovando as esperanças, onde antes eram ausentes... Não assim, somente assim, mais nada...

Pra luz que a treva esconde chega a hora
E a treva vai ao bonde da aurora
Olhar os céus bordando a madrugada...

É assim! A Terra gira para frente, na rotação de um dia após seu dia, depois na translação e seu roteiro de janeiro á janeiro, para tudo ser mais inteligente... E mudam as estações, renovam corações. E o Homem vai deixando o passado como traje descartado que teve sua importância. No presente, veste-se alado, em vista ao futuro a trajar vestido de gala dourado... Será assim quando visto o valor de nossa terra, de cada irmão que pelo mundo luta, não por interesses pessoais, mas com o altruísmo sem disputa, em seu amor mais profundo... E em cada segundo saber que o Soberano do universo faz toda vida o amor num verso...

E um novo dia surgirá de um botão
Da flor que espera, qual espera o coração
Razão do amor, pra vida ser desabrochada...

 

 

 
 
Conto publicado no "Livro de Ouro do Conto Brasileiro" - Junho de 2016