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Manoel Rodrigues Leite
Sinop / MT

 

Na fila

 

                                          Nunca gostei de ir em bancos, acredito que o tempo que se perde na espera é para valorizar o produto e o serviço que em sua maioria é de péssima qualidade. Sim existem alguns bancos com atendimentos um pouco melhor, mesmo assim fazer esperar ainda é uma prática.
 Só que infelizmente ir esperar em banco tem sido constante, fui transferido de cidade e como essa é uma condição temporária não quis transferir a minha agência. E como a empresa em que trabalho tem convênio com o tal banco, o jeito é ir e esperar. Outra coisa que também nunca tive muita paciência foi para joguinhos de celular, e ver tantas pessoas jogando qualquer coisa só para matar o tempo é de matar. Mas eu também tinha que passar o meu tempo, afinal duas a três vezes por mês precisava ir ao banco seja para serviços realizados exclusivamente no caixa, ou no atendimento com algum funcionário para assinar ou mudar alguma coisa simples, que pela burocracia não podia ser feito online.
Acontece que nas últimas semanas a minha frequência tornara-se mais constante. Eu perdera meus cartões e com isso meu acesso as minhas movimentações ficara ainda mais restrito. Foi nesse período que comecei a observar mais as pessoas que frequentam e esperam, esperam, reclamam e esperam para serem atendidas. Algumas chamam a atenção, mas tem um senhor em especial que se destaca. Eu já o havia visto algumas outras vezes a um mês talvez a dois meses, mas não me chamara a atenção. Contudo, nas últimas semanas comecei a observá-lo. Ele é um senhor alto, forte, parece ter boa formação, usa óculos redondos e um jeito como se conhecesse todo mundo, o que eu não duvido pela frequência com que ele vai ao banco poderia muito bem substituir qualquer funcionário, do gerente ao vigilante, e certamente não só atenderia melhor como saberia o nome de todos os clientes.
Certo dia eu estava sentado atrás de uma jovem quando ele chegou, pediu permissão para sentar e perguntou se fazia muito tempo que ela estava ali. Ai começou o discurso:
- É sempre assim, na hora que tem mais movimento sempre os funcionários saem para o almoço ou qualquer outro motivo e deixa a gente esperando. Se mudássemos de banco ou fôssemos no Procon tudo mudaria.
- Só que ir no Procon seria mais outra fila, e mudar de banco nem se falar. O jeito é torcer para ser atendida rápida. – Falou a jovem.
E como ela aparentemente não queria mais conversa fingiu ler uma mensagem urgente no celular. Ficando em silêncio até ser atendida.
Passou o tempo e outro senhor sentou ao seu lado. E percebi que ele iniciara conversa muito parecida. E notei que sempre ele puxava assunto, alguns pareciam ser conhecidos, mas para ele isso era de menos, o importante era falar do banco e do tempo que ser perdia.
Certa vez por coincidência sentei ao seu lado, e da mesma forma puxou assunto comigo. Falei pouco, apenas que era de outra cidade e que a minha permanência ali era temporária. Quis saber muito de minha vida, falei pouco. Me aconselhou muito, ouvi pouco. Quando o senha dele foi chamada, senti um alivio, acho que mais do que se chamasse a minha. Fiquei pensando por que tanto ele ia, e sempre puxando conversa com o mesmo assunto.
Esperei, esperei e me chamaram na mesma mesa que ele havia sido atendido. Todavia ele ainda continuava sentado em uma das cadeiras, calmo e não transmitindo nenhuma pressa em sair dali.
O funcionário veio entregou-lhe alguns papeis, mostrou o local para assinatura e confirmou que ele deveria autenticar para dar procedimento ao processo. Ele saiu e fiquei curioso como alguém fica muito tempo esperando e sai como se tivesse cumprido uma missão, onde em outro momento daria continuidade.
Não resisti e perguntei ao funcionário:
_ Como alguém pode vir com tanta frequência, e ainda sair de bem humor.
_ Há o senhor Leopoldo, é cliente antigo. Na verdade ele trabalhou em banco toda a sua vida. Sempre aparece para realizar alguma movimentação, muitas delas poderia ser online. Mas sempre vem.
_ Eu preferia aproveitar meu tempo em outro lugar.
_ Eu também! Mas, no que posso atendê-lo? – Perguntou o funcionários.
Enquanto era atendido passou pela minha cabeça, o quanto sempre queremos estar aonde não estamos. Inclusive o senhor Leopoldo que ia ao banco pois não queria ficar talvez aonde se sentisse ocioso, ou que era o único a esperar alguma coisa na vida. Esperar por alguma oportunidade, ou simplesmente o momento em que fosse chamado para encerrar a sua conta na vida.

                            

 

 
 
Conto publicado no "Livro de Ouro do Conto Brasileiro" - Junho de 2016