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Juliano Paz Dornelles
Porto Alegre / RS

 

Palavras da cigana

 


"Você está lá até hoje (...) E o lá é o que você é."

Um mês e meio após a copa do Mundo no Brasil, após o treino de Jiu Jitsu, passei pelo centro de vendas de passagem escolar, pra saber que documentos precisaria pra renovar minha carteira de estudante. Na passagem pela prefeitura, na região do Mercado Público, em Porto Alegre, fui abordado por uma cigana. Como de costume, sempre que passo por ali. resolvi ouvi-la, pois tenho respeito e admiração ao povo cigano.
A cigana me chamou. Então, resolvi ouvir o que ela queria me contar. Mostrei minha mão com uma nota de dinheiro. Ela disse: "Você é uma pessoa boa. Mas, frequentemente, perseguida". Aquilo me fez questionar uma sensação que tenho há um bom tempo.
Ela disse mais: "Quando menino você foi acusado de sair de um lugar sagrado. Isto teve um custo a você. Mas você nem sabe do que se trata. Pois nada fez". Aquilo fez um certo sentido. Então ela disse mais: "Quando jovem, adulto, há uns dez anos, você foi acusado, novamente, de sair do mesmo lugar sagrado. Mas em outra situação. Como um guerreiro. Um cavaleiro. E como um filho que se sentiu pai, lhe negaram e tentaram lhe deixar pra trás. Mas você está aqui. No presente. Rumo ao futuro".
Quando mais a cigana falava, mais me perguntei sobre alguns desafios que venho vivendo. A cigana disse ainda mais: "Você pagou um alto preço por isso. Teve perdas e contratempos. Teve de se esforçar dez vezes mais pra conseguir o básico. E ainda está buscando a recompensa".
Tudo o que me foi dito, faz algum sentido. Enquanto ela falava, me detive a lembrar de algumas coisas. Então a cigana completou: "O mais interessante, é que você continua lá até hoje. No lugar sagrado. Que, na verdade, é em você mesmo. É o que você é".
Impressionado com a história; E com o que ela me disse sobre o futuro, logo após estas colocações; Compreendi o porquê de alguns obstáculos extras no caminho. E porque me sinto mais forte a cada dia.
Ela benzeu o dinheiro em minha mão. Me pediu dois litros de leite para as crianças. Fui até o supermercado, na frente de onde a cigana estava. Dei-lhe exatamente o que me pediu. Vim pra casa. Trabalhei a tarde toda nas tarefas como mestrando. E até agora estou tentando entender o que tudo isto quer dizer. E venho conseguindo.

   
Publicado no livro "Xeque-mate" - Contos selecionados - Edição Especial - Novembro de 2014